Antigamente: Blumenau, 5 de outubro de 1984

A primeira sangria: 5 de outubro de 1984, pelas mãos do então prefeito Dalto dos Reis. A Oktoberfest tinha seu primeiro barril sangrado. Primeiro de muitos que, em 33 edições contam a história da festa mais alemã das Américas desde a origem, isto tudo depois de uma terrível enchente que parecia querer colocar tudo abaixo outra vez (Antigamente em Blumenau)
A primeira sangria: 5 de outubro de 1984, pelas mãos do então prefeito Dalto dos Reis. A Oktoberfest tinha seu primeiro barril sangrado. Primeiro de muitos que, em 33 edições contam a história da festa mais alemã das Américas desde a origem, isto tudo depois de uma terrível enchente que parecia querer colocar tudo abaixo outra vez (Antigamente em Blumenau)

Blumenau, 5 de outubro de 2016

Bueno, é outubro na cidade-jardim, e como de praxe há mais de 30 anos, estamos em época de Oktoberfest. Pelas ruas, pelas lojas e pelo entorno do majestoso Parque Vila Germânica, as cores e elementos da festa mais alemã das Américas vão desabrochando para, novamente, receber blumenauenses e turistas e todos os cantos. Uma tremenda zorra (controlada, assim espero) regada a chopp, tradição, sorrisos e, claro, muitas novas histórias que virão.

Quem é de Blumenau, sabe muito bem que o clima na cidade muda quando a Oktober dá a largada. As vias centrais ficam mais cheias, o movimento nas ruas aumenta consideravelmente, o Bierwagen faz rotineiras viagens servindo chopp aos transeuntes (maiores de 18, diga-se de passagem) e a imprensa mobiliza-se com coberturas completas e especiais sobre a história e personagens da festa. Ouvimos nomes como os de Ingo Penz, Nerino FurlanRicardo StodieckRogério França e Oseias (Vox 3), Vovô / Vovó Chopão e até aqueles das bandas alemãs convidadas e comidas típicas que enrolam a língua numa saudável brincadeira ortográfica.


As ruas recheiam-se de pessoas comuns e foliões para apreciar o desfilar de grupos, carros alegóricos, bandas e até as briosas fanfarras escolares. Na Vila, em todos os seus setores, a turma festeja sem hora para acabar, pulando no som de bandas como Os Montanari, Banda do Barril, Banda do Caneco, Banda Society, Banda Canarinho, Oktobertanzkapelle, Vox 3, Cavalinho e tantas outras agremiações que o tempo já consagrou. É um outro mundo completo que nasce na cidade-jardim a cada ano, e que só para depois de 19 dias de folia. dois a mais que os tais 17 que versava o saudoso Helmut Hogl no antológico hino da festa, concebido lá no distante 1989.

Pois bem, como blumenauense da gema e amante de história, não pude deixar, outra vez, de me levar pelas memórias desta festa que anima e é legendária a cada edição. Navegando pelas fotos antigas, cartazes e vídeos de outrora (videos que são muito poucos se pensarmos em Oktoberfest mais distante dos tempos atuais) pousei outra vez na raiz de tudo, num distante dia 5 de outubro em 1984 (grata coincidência), uma sexta-feira de sol e noite enluarada, que o então prefeito e amigo de A BOINA, Dalto dos Reis, sangrou o primeiro barril. Ainda uma estrutura tímida de aço pequenina mas de importância indelével.

É, vou me soar repetitivo com relação ao ano passado, que já tinha escrito sobre a festa naquele quinto ano da década de 80, destacando a produção que fizera em 2013 quando ainda era acadêmico de Jornalismo do IBES/Sociesc. A pequena grande reportagem circula pelo YouTube talvez como uma constante recordação dos juvenis tempos acadêmicos, fora o extasio das descobertas da legítima história acontecida em 1984.

Desenterrando histórias da Oktoberfest: Em uma noite de 2013, Dalto dos Reis desenterrou a origem da festa naquele 1984 para um grupo de jovens acadêmicos: (esq-dir) Tamara Caroline, este jornalista e Roger Florêncio. A curiosidade pela origem da Oktoberfest começou ali e sempre chama atenção pelo clima que imperava em Blumenau na chegada da celebração (Roger Florêncio)
Desenterrando histórias da Oktoberfest: Em uma noite de 2013, Dalto dos Reis desenterrou a origem da festa naquele 1984 para um grupo de jovens acadêmicos: (esq-dir) Tamara Caroline, este jornalista e Roger Florêncio. A curiosidade pela origem da Oktoberfest começou ali e sempre chama atenção pelo clima que imperava em Blumenau na chegada da celebração (Roger Florêncio)

Mas, alias, como era o mundo naquele 1984? Muito diferente do livro de George Orwell (que virou um bom filme, por sinal), 1984 era o ano das olimpíadas em Los Angeles. Quando a URSS devolveu o boicote no mesmo rublo que os EUA não pagaram em 1980. O Brasil lá esteve, sem esquecer o ouro de Joaquim Cruz no atletismo e a prata da primeira geração vitoriosa do vôlei. Ainda no esporte, o mundo da velocidade descobria quem era o tal moço de São Paulo que usava um capacete verde-e-amarelo e assombrava a F1 numa modesta Toleman: Um tal de Ayrton Senna da Silva, diga-se de passagem.

No nosso cercado,  Chorávamos a negativa às eleições Diretas, assistíamos o nascimento do Macintosh, da gigante Itaipu e do garoto Chaves, exibido pela primeira vez no SBT. Era ano de crise, onde a inflação nos apertava e onde se estudava OSPB  (Organização Social e Política Brasileira) e Educação Moral e Cívica nas escolas. Não que em Blumenau a vida fosse mais tranquila. Ainda nos refazíamos das cinzas da enchente de 1983 quando juntos 365 dias depois, o Itajaí-Açu invadia a cidade-jardim outra vez. Foram 15,46m, rigorosamente 12 centímetros a mais que no ano anterior (15,34m), mas igualmente destrutiva.


No entanto, equivoca-se o blumenauense que pensa que a Oktoberfest nasceu no meio da lama para motivar o munícipe a sorrir outra vez depois de duas pancas d’água na cidade. A ideia nasceu bem antes, o desejo já era antigo (fala-se até de ideias em 1976), tinha sido planejada já por Renato Vianna em 1981 e cabia ao sucessor, o prefeito Dalto, e ao então secretário de turismo, Antônio Pedro Nunes, dar vida ao velho sonho. Depois de alguns adiamentos, sugeriu-se 1983 para o início da celebração. Mas a grande enchente sepultou tudo, exceto o céu instalado no pavilhão A da antiga Proeb, como recordava sempre a querida professora Thereza Palmas Ribeiro nas tantas conversas que tínhamos sobre aqueles idos.

Até hoje, ao recordar as palavras de Dalto sobre o tiro certeiro de fazer-se a festa naquela exata época de 1984, em meio as dúvidas e incertezas de outro pós-enchente. Era realmente o momento certo? Foi uma tacada certa mesmo diante de pessoas com rodo na mão e lama rolando na calçada? Arrepia-me só de pensar qual o tamanho da pressão que recaíra sobre o então prefeito e hoje grande amigo, mas num olhar crítico sobre a fala de Dalto dá pra deduzir pura e simplesmente que se o clima da enchente não foi o maior motivador, ao menos ajudou na conjunção de fatos que inspiraram os idealizadores para organizar a festa justo naquele ano de nova desgraça.

Flashes das duas primeiras Oktoberfest (1984 e 1985):


Soa cruel pensar de se fazer festa tendo uma cidade para se reconstruir? Há pesos e medidas, convenhamos. É natural que naqueles tempos o blumenauense também tenha se perguntando qual era a ideia da administração em fazer a festa nascer justo num pós-cheia? Falamos de outubro, a enchente foi em agosto, a distância de tempo era curta, tudo era risco, mas talvez algo calculado, pensado e tendo como ingrediente a mais o fato da cidade precisar de um embalo para superar uma nova tragédia como aquela.

Isto recordando ainda o que Dalto dissera: Talvez não teríamos clima para começar a festa no ano seguinte. Ou seja, não haveria um motivo mais forte, um momento mais preciso para tanto na história da cidade ou então, nestes tantos rodeios da vida da cidade-jardim a Oktoberfest surgiria, quem sabe sem a mesma força ou ainda talvez não durando tanto por algum contratempo no meio desta estrada.

Explicar esta feliz origem, nascida no meio da água lodosa como fogo, crescida em uma cidade em plena metamorfose e consolidada como a maior do continente jamais será assunto com começo-meio-fim. Gostaria de entender, tal como crio que Dalto também entenda, como o momento certo para a festa começar, com todos os ponteiros e coincidências possíveis se ajustando para que a primeira edição marcasse com méritos e de forma única o inicio de uma andança que soma 33 edições, mais de 10 milhões de visitantes e alguns outros milhões de litros de chopp consumidos.

Não havia outra forma de a Oktoberfest começar sua história em 1984. Fora toda a programação feita no ano anterior - coisa burocrática e organizacional, diga-se - a festa teve uma conjunção de fatores que criaram o clima perfeito para que sua primeira edição marcasse indelevelmente o start desta história. Soa estranho pensar que o clima de pós-tragédia contribuiu para este nascimento, mas talvez não havia outro jeito de começar. Ela precisava mesmo estar ali naquele outubro de 1984 Jaime Batista)
Não havia outra forma de a Oktoberfest começar sua história em 1984. Fora toda a programação feita no ano anterior – coisa burocrática e organizacional, diga-se – a festa teve uma conjunção de fatores que criaram o clima perfeito para que sua primeira edição marcasse indelevelmente o start desta história. Soa estranho pensar que o clima de pós-tragédia contribuiu para este nascimento, mas talvez não havia outro jeito de começar. Ela precisava mesmo estar ali naquele outubro de 1984 (Jaime Batista)

Dos desfiles simples às grandes produções e carros alegóricos. Do pastel e cachorro quente com salshicha longuette à Tulipa de Pato e a Batata Recheada. De Antárctica e Brahma à Eisenbahn, Bierland e tantas outras cervejarias. A roda da Oktoberfest assinala o começo do 33º giro nesta quarta para 19 dias de folia. Aos amigos foliões uma boa celebração sem exageros, boas aventuras e que venham muitas novas amizades.

A Oktoberfest vai começar em Blumenau, uma vez!

1 comentário em “Antigamente: Blumenau, 5 de outubro de 1984”

  1. André,
    Belo trabalho, uma postagem excelente sobre nossa Oktoberfest. Além disso com a voz do Sestrem, Mirandinha, Bebeni, Dalto dos Reis.
    Em meu blog tenho toda história da Oktoberfest.
    Também poderias deixar este link onde explico toda história e também de Blumenau.
    Ouçam:
    https://goo.gl/KHcdwp
    Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau

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