“O rádio é a maior oportunidade perdida de melhorar o mundo”
Um dia, talvez desiludido com este mundo que lhe cercava, o grande Hélio Ribeiro cunhou este pensamento pesado, duro, falando da própria profissão para um microfone solitário. Era uma constatação doída de se fazer para um meio que chega tão perto e tão longe.
Mas, será isto mesmo, Hélio? Será que desiludimos tão fácil em querer melhorar o mundo? A rotina de quem empresta a voz para navegar em ondas hertzianas é, simplesmente, conduzir um programa, produzi-lo e, no fim do mês, receber o soldo dos dias trabalhados friamente?
A gente já vem ouvindo essa constatação dura desde o banco da faculdade, e falo isso de quem passou por lá e sentiu, pouco a pouco, a crueza e secura dessa vida na comunicação. Os que vem de longe, mais velhos e de voz mais empostada e cansada, tem esse calo há tempo e, por vezes, parece que engrossam esse caldo do niilismo para com o redor de si.
Pior é querer escapar desta lógica que entra sozinha na vida do locutor ou locutora. Nem todo dia é dia de vir sorrindo. Brigas, problemas, demandas, correrias, e atrás de um microfone, diante de um roteiro e cercado de ouvidos atentos a gente tem que sorrir. Pode parecer cruel e nefasto, mas é necessário para quem nos aguarda ouvir.
O meu problema não é o do outro, mas não é também os problemas que me impedem de fazer o outro sorrir mesmo quando ele está mal. Este encontro diário entre minha voz e mensagem com o ouvinte/receptor é um momento que ele tira para limpar-se daquilo que talvez esteja o fazendo mal, esquecer do mundo em volta mesmo quando a corrida do trabalho apenas lhe permite minha companhia para encher o ambiente.
O rádio, ligadinho como testemunha de um dia frenético num canto da vida, ainda é o maior companheiro que algumas centenas, milhares, milhões de ouvidos tem para afagar a alma. E o locutor que toca esse coração e faz vibrar e rasgar emoção ganhou seu dia, tão valioso quanto o soldo que lhe cai no bolso no fim do mês.
Será que nós, os radialistas de todo dia, somos obrigados a cair nessa lógica fria do monetário e do rotineiro? Ah, a gente usa a criatividade para inventar mariolas, para colocar nossa palavra a serviço da noticia velha de guerra, transmitir conhecimento e carinho, não é possível ser frio, não há lugar para frieza no rádio, a não ser que você seja uma pedra de gelo, coisa que não há lugar num meio como o nosso.
Dizia o saudoso ator cômico francês Louis de Funes, em uma entrevista, que “um homem nunca faz mal ao rir durante 1h30 ou 2h. Enquanto há pessoas rindo, em comunhão, acho que ninguém pensa algo ruim”. Para um locutor inspirado, não é preciso muito para mudar o panorama de alguém do outro lado da linha em um dia pesado.
Hélio Ribeiro, uma das grandes vozes que o rádio brasileiro produziu, dono de uma criatividade e pensamento únicos para o meio, terá de desculpar este discípulo de quatro curtos anos de microfone. O rádio não é uma oportunidade perdida, mas como mudar um mundo cansado de guerra é impossível, por que a gente não muda o mundo do nosso ouvinte? Uma palavra ou música, muitas vezes, é o suficiente.
Não se perca, no rádio, a oportunidade de mudar o mundo de alguém. Talvez não faça influência em toda a terra, mas para alguns a nossa volta, terá sido o melhor momento que ele poderá desfrutar em um dia, uma semana, mês, ano, vida. E isto, não há soldo nem frieza que derrube a tua criatividade.
O rádio ainda é a melhor oportunidade para mudar o mundo, nem que seja simplesmente, o mundo do seu ouvinte.
Acredite e faça acontecer no dia seguinte. A gente se encontra no ar amanhã.