Que falta que faz esse mineiro bonachão, filho de Belô, contemporâneo do Clube da Esquina, admirado por Vinícius, risonho por natureza, tudo e mais um pouco e, confesso, tão pouco lembrado e referenciado na musica brasileira, até mesmo no dia que foi para o andar de cima. Luís Otávio de Melo Carvalho, o Tavito, um gigante gentil de Minas, tal como Erasmo.
O cidadão é daquele tipo que dá um gosto enorme sentir o poder de sua poesia e sensibilidade nas letras que produzia. Icônicamente falando, Tavito é o cara da via urbana mais conhecida da música brasileira: a “Rua Ramalhete”, onde todos esperam a vinda dos Beatles algum dia. Também dele, a maravilhosa “Começo, Meio e Fim”, um retrato milimétrico do coração se refazendo para voltar a peleia do amor, quão necessário isso é hoje!
O mineiro nos deixou há um tempinho, quase quatro anos para ser mais exato. No entanto, para quem o aprecia, a falta é grande, sobretudo quando cai na mão um som marcado com sua irrepreensível qualidade de produtor musical, especialista de rentáveis spots publicitários a pérolas da MPB. E foi num “por acaso” que me fui agraciado com uma baladinha adorável, deliciosa de ouvir e risonha por si só recentemente.
Foi vendo recordações em vídeo dos antigos estúdios cariocas da Rádio Globo que um princípio de trilha falando de simpatias me chamou atenção. Batida gostosa, animada, típica das baladas Pop oitentistas no Brasil. Bateria gorda, linha de baixo agradabilíssima, um acompanhamento de flautas transversais adorável e uma letra envolvente, mergulhando a gente nas crendices populares, superstições, mandingas. Aquela coisa mágica de que só o som é capaz, você sabe: ele te fisga, atiça a curiosidade.
Um parênteses: o vídeo em questão, gravado no puro VHS, era o animado horário noturno do saudoso Antônio Luiz Vendramini, com um paradão extremamente popular, daqueles pra não deixar ninguém dormir mesmo. E vale falar da beleza das imagens, com o feeling da operação, entre cartuchos, LP e mesa, no controle do lendário Carlos Pajeú, um dos tantos cobras da operação de mesa de todos os tempos.
Até vale dar uma olhada na produção, pra quem curte apaixonadamente rádio, é de arregalar os olhos…
A delícia que é ouvir “Simpatia”, dentro de toda sua graça e sonoridade peculiar da década perdida, deixa a gente com um faceiro sorriso na cara. Uma feliz combinação de sons que, por sinal, destoa das melodias mas calmas e reflexivas do saudoso mineiro quatro-olhos. Tavito é um nome que precisa ter seu cartaz, seu destaque merecido dentre tantos que trilharam a música naqueles tempos de criatividade latente, capazes de grandes e imortais trilhas.
Estou com “Simpatia” na cabeça. Valeu por essa, Antônio Luiz! Valeu por essa, Tavito! E se você acredita em simpatia, cê vai se identificar. Afinal, quem já não fez uma, mesmo sem querer? Bora curtir, em puro som 33 da CBS, cortesia do fantástico canal Baú do Som, cuja curtida é altamente recomendável e a gente ainda se é presenteado com o Lado B do compacto: “A Nossa Casa”.
Em tempo: “se tem quatro folhas, esse trevo dá pé!”