Som n’A BOINA #04: Os (incompreendidos) Incríveis

Era o maluco ano de 1961. Yuri Gagarin é o primeiro a ver o espaço tão de perto e a terra tão de longe, John Kennedy tomava posse como presidente e Berlim era repartida impiedosamente pelo Muro de Berlim. No Brasil, virávamos a cabeça no governo quase semestral de Jânio Quadros. Da mesma forma que a vassourinha varria a bandalheira ele mesmo acabou se varrendo do poder, sem antes bagunçar a política, condecorar Che Guevara e reatar relações com a URSS.

O Gran-Circus ardia em chamas, o Santos de Pelé e Coutinho era campeão nacional pela primeira vez, o Rio de Janeiro continuava lindo e a música que rodava nas vitrolas era sonzeira para embalar os brotos. O mundo ainda estava descobrindo o Rock em 1961, imortais como Elvis Presley e Roy Orbison ainda dividiam paradas cabeça a cabeça com outros imortais como Frank Sinatra e Ella Fitzgerald, os Beatles estavam pelos lados de Hamburgo e o Twist escandalizava os puritanos com o gingado alucinado das moças nas festinhas em salões e até mesmo em casas de subúrbio.

O Brasil seguia a trilha e entrava nos eixos do que rodava nas vitrolas lá fora. Desde as primeiras experiências de Rock no país – com Cauby Peixoto e os irmãos Tony e Celly Campello – a pátria do samba e da então futura bossa-nova mostrava que queria ser mais do que um banquinho e um violão. Tudo era meio artesanal, meio na mão e até meio adaptado da gringa. Cantores e bandas faziam o seu e mudavam o cenário, e nesse meio todo está uma história que merece destaque e que assim o ganhará no SnaB de hoje: Os paulistas malucos do inesquecível Os Incríveis, uma das mais importantes bandas da então vigente Jovem Guarda.

No entanto, se pensa o leitor que esta será uma looooonga história sobre uma banda, engana-se. Que vamos entrar no contexto, claro que vamos e isso não há dúvida. Mas o que o SnaB traz aqui hoje talvez seja um trabalho ainda pouco explorado que reside no passado do Rock nacional. Dentre tantos que botaram a cara a tapa naqueles tempos tão difíceis para o estilo, Os Incríveis tiveram um papel proeminente e tão importante quanto, seja durante a existência da banda quanto nas carreiras solo de alguns dos seus integrantes, responsáveis por outras incursões e experiências no Rock tupiniquim dos anos 70.

O nascimento, madurecimento e sucesso

A banda em 1962, ainda com Neno segundo em pé, esquerda para a direita) e com o nome de The Clevers. Ao centro, de jaqueta branca, o empresário Antônio Aguilar. A revelia com o manager da turma foi o primeiro ato de rebeldia, mudando o nome em seguida para o adjetivo pelo qual já eram conhecidos: Os Incríveis (Reprodução)

Falamos de tantos acontecimentos de 1961 e um deles, claro, foi o surgimento da banda. Domingos Orlando, Waldemar Mozema, Antonio Rosas Seixas, Luiz Franco Thomaz e Demerval Teixeira Rodrigues eram quatro garotos fascinados pelo som e embalos que tomavam a cabeça dos futuros músicos a cada disco rodado. No embalo do que vinha na eferverscência musical de São Paulo dos anos 60 nasceu o grupo que teria (na ordem dos nomes antes citados) Mingo (guitarra/vocal), Risonho (guitarra solo), Manito (saxofone, órgão e o que mais vinha…), Netinho (bateria) e Neno (baixo), que seria substituído por Livio Benvenuti Júnior, o Nenê (baixo), em 1965.

Inicialmente, eram chamados The Clevers e tocavam o modal daqueles tempos: O Twist. No entanto, depois de uma turnê bem sucedida na Argentina e divergências com o empresário Antônio Aguilar, a banda trocou de nome para Os Incríveis, adjetivo pelo qual já eram muitas vezes conhecidos em vários shows por São Paulo e outros rincões do Brasil. E bota show nisso, eram uma das bandas mais concorridas da Jovem Guarda, competindo em popularidade com The Fevers e Renato e Seus Blue Caps, contemporâneos de carreira musical daqueles tempos.

A mudança para a RCA foi um passo certo, permitindo mais liberdade para se experimentar novos sons. No entanto, a gravadora acabaria por complicar a carreira d’Os Incríveis a partir dos anos 70 (Reprodução)

De 1965 em diante, Os Incríveis deslancharam pelo país, emplacando sucessos disco após disco, com uma sonoridade característica e bem diferente da que era feita pelas bandas naqueles idos. Dois anos depois, a banda saia do seio da Continental para gravar pela RCA, uma tática bem acertada por sinal, afinal, das gravadoras do país naqueles tempos, selos como RCA, Philips (PolyGram), Rozemblit e Equipe eram muito mais livres para experimentações, bem diferente dos popularescos como Copacabana, CBS, Polydor e, claro, a Continental.

Depois de 1967 é notável como o som dos Incríveis evolui. Saindo do seio do Twist e do Rock de início de década, a banda traz músicas mais bem produzidas, versões inteligentes e até instrumentais com toque especial. Não para tanto, a versão de O Milionário seria refeita naquele ano, bem mais densa e vibrante do que a primeira execução chinfrim gravada em 1962 ainda na Continental. Alias, no disco deste ano (Para os Jovens que Amam os Beatles, os Rolling Stones e…Os Incríveis), praticamente todas as faixas são excepcionais, mostrando maturidade dos garotos. Mas, com relação aos discos, falemos deles melhor daqui a pouco.

Os anos 70: Outros caminhos e o estrago de uma canção

Pela RCA foram oito discos, entre 1967 e 1973, ainda com produções em 1975 e 1981. No entanto, apesar da grande fama conquistada junto ao público com um som que fugia do comum da Jovem Guarda, três programas de TV e shows movimentados, Os Incríveis tinham também seu lado artista rebelde. A vida na gravadora do cachorrinho e com o novo empresário não era um sonho tão brilhante, a renda de shows e gravações nem sempre era proporcional, fora a insistência velada de Mingo em querer arrastar a banda para um caminho mais meloso ou romântico, tal como seu gosto por música italiana.

Ao entrar nos anos 70, a produção dos Incríveis já mostra sinais de preferencias musicais distintas pelos membros da banda, mas ainda assim com um som bem original comparado as bandas de baile daqueles idos. Entre o insipiente Rock progressivo e a psicodelía (Ronnie Von como exemplo) e o pop puxado para o romântico, Os Incríveis inovavam flertando os ritmos com o Forró (Sem Vergonheira) o Samba-Rock (Vendedor de Bananas) e até a Bossa Nova (Estrada do Sol). Até mesmo os instrumentais, as versões e as melodias mais pop ganham acordes de guitarra elaborados misturados com o saxofone do habilíssimo Manito, um multi-instrumentista de mão cheia.

A dupla Dom & Ravel, cantores de melodias que puxavam um pouco ao ufanismo no tempo da ditadura. Seria de Dom a letra de Eu Te Amo, Meu Brasil (Reprodução)

Mas, eis que chega 1970, e uma tacada ingênua acaba sendo o que, talvez, seria a grande punição aos Incríveis. De volta de Londres, numa passagem de grandes experiências, a banda estava preparando o álbum daquele ano, famoso pela capa com chapas de Raio-X da cabeça de cada um dos integrantes. Na mesa de composições da banda uma letra bem despretensiosa, com uma canção definida por Netinho como um ieieie meio sem graça. Era a letra de Eu Te Amo, Meu Brasil, composta por Dom, da dupla Dom & Ravel, e que deveria ser lançada no disco.

A gravação foi feita num clima bom, com um ritmo cadenciado por uma autêntica fanfarra. A letra conta das belezas do país e fala da juventude em si que toma conta das esquinas mostrando seu estilo e jeito de viver. Infelizmente, quis o destino que a canção, para os críticos da imprensa e demais profissionais da música, saísse na hora errada. Eu Te Amo, Meu Brasil acabou soando como canção ufanista a favor do Regime Militar vigente. E não deu outra, tinha até escola ensinando a música para os alunos!

Casa de Rock, LP do Casa das Máquinas, nova banda de Netinho (Reprodução)

Foi o erro de rota. Os Incríveis julgaram estar fazendo uma melodia legal, que até é gostosa de ouvir, mas que foi propagandeada pela RCA como  a canção de destaque no álbum de 1970, sendo recortada para compacto e vendida logo depois do lançamento do disco. Seria o estrago feito com a reputação da banda que, convictamente, era apolítica? Dizem Netinho e Nenê, em entrevista feita para o Portal Jovem Guarda em maio de 2005 que este foi um dos estopins para a separação da banda, oficialmente falando, em 1972, já que Mingo queria continuar insistindo nesse filão popularesco.

Com cada um encaminhado, a banda seguiu seu rumo. Netinho se empenhou no revolucionário Casa das Máquinas e Manito ajudou a fundar o Som Nosso de Cada Dia, Nenê seguiu carreira solo e atuou como produtor, enquanto Mingo e Risonho continuaram na RCA, que já havia tomado posse do nome da banda e permitido o lançamento de discos com outras canções ufanistas, como O Brasil é Feito por Nós, Este é o Meu Brasil e Este é Um País que Vai para Frente. A banda ainda gravaria, mais por simples gravar um disco e ajudar na vendagem, outros dois álbuns, Isto é a Felicidade, de 1975, e Os Sucessos nas Paradas, de 1979. Meros joguetes comerciais da gravadora.

O disco do Som Nosso de Cada Dia, co-fundado por Manito (Reprodução)

Outra tentativa de fazer a banda retornar viria em 1981, mas os mesmos problemas de direcionar caminhos e repertórios pegou o quinteto em cheio. Depois disso, coletâneas, shows e entrevistas foram o máximo que Os Incríveis tinham para manter viva a sua história na música nacional. Mas o estrago, ou não, feito em 1970 pela gravadora e pelos produtores já tinha sido feito. Não dava pra ouvir Incríveis sem lembrar de Eu Te Amo, Meu Brasil e o rótulo de apoiadores do regime ficou impresso e bem impresso.

É aqui que mora o erro e o fatal descrédito da música brasileira. O trabalho d’Os Incríveis na música nacional naquele período foi totalmente negligenciado por conta de uma única canção. É claro que outras legendas como The Fevers, Renato & Seus Blue Caps e até o The Jordans ( um dos últimos sobreviventes das bandas de Rock instrumental dos anos 50…no mundo!) também estão na cruel penumbra que a música nacional impõe ao período da Jovem Guarda, mas Os Incríveis tem o algo mais: A sonoridade e a combinação de melodias saia do padrão de bandinha de Rock do período, buscava novas formas de fazer arranjos, de compor e reler músicas e melodias, criando uma personalidade só sua.

Qualquer um – ao menos que não entenda tão profundamente de música – que é perguntado sobre a existência d’Os Incríveis pode dar de ombros sem saber ou conhecer o som do grupo. Quando resolvi mergulhar nas canções da banda ainda nos anos 2000 não tive como não me tornar fã deles: Era muito além de um simples som Jovem Guarda, a música trazia algo mais, algo diferente daquele padrão sessentista no Brasil, independente de ser versão, versão instrumental ou composição original.

Para quem não conhece, vamos a um rápido review dos álbuns d’Os Incríveis, destacando algumas características e algumas canções que valem o ouvido nos discos. O período vai do último disco pela Continental, em 1965, até o de 1981.

Afinal, no SnaB não basta só ouvir um bom som, mas também descobrir novos sons!

(Reprodução)

Os Incríveis (1965) – O disco da capa amarela, que marcou a chegada de Nenê a banda, arrancado quase a força do Beatniks (conhecido por ter gravado a primeira versão de Era Um Garoto que, Como eu, Amava os Beatles e os Rolling Stones). Ainda é um pouco preso no Twist e em instrumentais no estilo do início dos anos 60.

Tua Voz é a canção mais marcante, mostrando toda a malemolência de Manito com o seu saxofone:


(Reprodução)

Para os Jovens que Amam os Beatles, Os Rolling Stones e… Os Incríveis (1967): Primeiro disco da banda pela RCA. Ano marcante até pela gravação de um longa-metragem com a banda (Os Incríveis neste Mundo Louco), com passagens malucas da banda pela Europa, especialmente a Itália, que tanto os amada.

Como disse antes, todas as faixas são ótimas, destacando-se uma ou outra, como Nosso Trato, Minha Oração, a nova versão de O Milionário e Czardas. Mas, sem dúvida, a grande pérola é Era Um Garoto que, Como Eu, Amava os Beatles e os Rolling Stones, regravação do Beatniks e até hoje negligenciada e esquecida pelos fãs de um certo Humberto Gessinger e os Engenheiros do Hawaii, que a regravaram no fim dos anos 80:


(Reprodução)

Os Incríveis Internacionais (1968): Uma jogada meio comercial da RCA, o último disco com a linha de canções a lá Jovem Guarda lançado pela banda. Contém várias, e interessantes, versões interessantes como Knock on Wood (original de Eddie Floyd), I Feel Good (James Brown, claro), E Se Nos Disserem (E Se Ci Dirano, do grande Luigi Tenco) e Israel (versão da melodia do super Gianni Morandi). Estas duas últimas, com sinceridade, numa pegada mais roqueira que dos intérpretes italianos.

Neste disco, em especial, merece destaque duas faixas: Kokorono-Niji (Arco-Íris Azul) e I Love You Tokyo. Duas versões de canções japonesas, a primeira da boa banda nipônica The Blue Comets e a segunda pelo conjunto japa Los Primos. Resultado da viagem da banda ao Japão naqueles idos de 1968.


(Reprodução)

Os Incríveis (1969): A levada deste álbum consolida a maturidade da banda, com sons mais refinados e uma experiência em grande estilo de ritmos fora do Rock. Não há como deixar passar O Vendedor de Bananas, criação de Jorge Ben, em ritmo de samba mas bem casada com as guitarras e baixo.

Ainda neste disco, destaques para a ótima O Vagabundo (versão de Giramondo, de Nicola Di Bari), Que Coisa Linda, uma espécie de sinfonia misturada com banda, Vendi os Bois e Embora, esta última num belo arranjo de violão e guitarra havaiana. Detalhe: A capa dos Incríveis seguiu o mesmo estilo da capa do disco do quarteto Os Caçulas, também artistas da RCA. Vai saber se a gravadora fez um joguinho com outros artistas do selo naquele ano.


(Reprodução)

Os Incríveis (1970): Enfim, o trágico disco de Eu Te Amo, Meu Brasil. Com uma capa bem interessante mas um tanto estigmatizado pela canção que ocupa a terceira faixa do lado A. De resto, um baita trabalho, com uma verdadeira e bem feita ode á Jimi Hendrix na primeira música (Adeus Amigo Vagabundo), talvez a melhor faixa do LP.

Ademais, merecem ouvidos também a ótima Você Pensa Que é a Tal, uma brincadeira interessante com Charleston, a releitura fantástica e bem produzida de You Keep Me Hangin’On, do The Supremes mas baseada na versão da banda Vanilla Fudge, e Hi de Ho, versão instrumental da épica canção do Blood, Sweat & Tears.


(Reprodução)

1910 (1971): Depois do disco de 1970, qualquer produção d’Os Incríveis podia ser colocada em dúvida. Mas ainda neste trabalho o grupo mostrava, muito mais do que as preferencias musicais diferentes de cada um, o refinamento a que tinham chegado. A faixa-título em si já é ótima, por sinal.

Neste LP, vale destacar a ótima releitura de Sem Vergonheira, um forró que ganhou guitarras, além da instrumental meio psicodélica de Na Baixa do Sapateiro, de Ary Barroso. Aqui já se nota um pouco do popularismo que começava a tomar conta da mente de Mingo com a Canção dos Imigrantes, que não deixa de ser… animadinha.

(Não tem completo, só a faixa-titulo. Fico devendo)


(Reprodução)

Mingo, Nenê e Risonho (1973): Netinho e Manito seguiram rumos distintos depois de 1972, mas nada impediu a RCA de lançar mais este disco com os três Incríveis restantes. Era o golpe da gravadora que, naquele ano, tomava o nome da própria banda e o tornava sua propriedade.

Não escapa de ter sons interessantes, como a releitura de Estrada do Sol, composta por um certo Tom Jobim, além do sambinha Uma Rosa para Dita, composto e cantado pelo próprio Nenê.


(Reprodução)

Isto é a Felicidade (1975): Outra cartada da RCA puramente feita para venda. Aqui, a banda já estava bem longe do que era, já que os integrantes estavam mais atentos as vidas a sós, a exceção talvez de Mingo e Risonho, ainda atrelados a gravadora do cachorrinho.

O som do disco soa mais popularesco, mas voltado para consumo, o que era mesmo a intenção da RCA. Tanto que a banda nem fazia show junta para divulgar o trabalho. No plantel tem como destaques uma valsa (a faixa-título), a versão Você Vai ser Mamãe, que foi o grande sucesso do disco, mais uma japonesa (Tigureta Ai) e dois forrós dignos de nota: Qui Nem Giló, relendo a canção de Luiz Gonzaga, e Forró do Brás, fazendo justiça com o velho Arnesto e sua ausência de casa no samba de Adoniran Barbosa.


(Reprodução)

Os Sucessos das Paradas (1979): Notoriamente comercial. Talvez a RCA sentiu falta de uma banda como Os Motokas ou o próprio The Fevers no cast para lançar versões de músicas que bombavam nas paradas. Tendo apenas Os Incríveis na mão (ou melhor, só o nome da banda a mão) foi o que tinha e foi o que deu: Nada muito especial.

Deste disco, apenas uma música para se ouvir e sentir o som do LP: A.C.M., versão curiosa careta da apoteótica Y.M.C.A., dos cidadãos do Village People.


(Reprodução)

Os Incríveis (1981): Então, o último disco de estúdio da banda com inéditas. Bom, falar de inéditas seria demais, já que um grande medley que toma conta de boa parte do lado B. Fora isto, algumas canções pop interessantes e outras puramente comerciais. Fruto de outra série de imposições que foi empurrada a contra-gosto para a banda.

Para sentir o som do disco, a faixa Quando Amanhecer soa como a mais interessante do album.

(Vou ficar devendo também. Tão desconhecido o disco que praticamente não se acha música no YouTube para demonstrar. Foi mal!)


Menções Honrosas:

Os Incríveis Neste Mundo Louco (1967): Menção como o disco que trouxe a trilha sonora do filme da banda, dirigido por Primo Carbonari, recheado de boas canções e ainda carregado do clima Jovem Guarda da época. Uma espécie de Os Reis do Iê Iê Iê tupiniquim. A canção Mundo Louco é versão de Even The Bad Times are Good, do The Tremeloes, e foi muito bem revista.

Um trecho do filme, com a execução da animada Don Pepe Legal está ai embaixo Se eu encontrar o filme completo outra vez, compartilho com os amigos:

Sayonara Sayonara (1968): Recortada em compacto, a canção de Kyu Sakamoto foi muito bem revista pela banda, numa batida intensa e de versos mesclando português e japonês. Vale a pena!

Hino Nacional / Hino da Independência (1971): Gravada um ano depois de Eu Te Amo, Meu Brasil, o compacto era promocional com trilhas comerciais para o sabão em pó Rinso. Vinha de brinde junto com uma caixa do produto. Merece menção por ter sido a primeira vez que o Hino Nacional foi gravado por um artista da música brasileira. Isto que, até lá, era proibido este tipo de trabalho.

Se o Meu Fusca Falasse (1970): Compacto lançado com duas canções relativas a película de sucesso da Disney lançada um ano antes. O lado A é uma versão da instrumental que é trilha do próprio Herbie durante a corrida final, já o lado B é um som fantástico, bem elaborado, contando sobre a história do filme.

Cem Milhões de Corações (1974): Uma tentativa meio chinfrim de imitar Miguel Gustavo, quando do lançamento da trilha do Tri Pra Frente, Brasil!. No final, a seleção molenga de Zagallo atuante na Alemanha foi para… trás, perdendo para Cruyff e laranja mecânica holandesa na partida decisiva da segunda fase e, posteriormente, para a Polônia na disputa do terceiro lugar.

Caminhemos (1975): Interessante versão da música de Nelson Gonçalves, numa batida mais pop.

Marcas do Que se Foi (1976): A clássica canção de final de ano lançada em um comercial do Regime Militar e que, até hoje, é tocada e lembrada nos 31 de dezembro. Faz parte da leva de sons ufanistas gravados por Mingo na RCA.

Veja só a aplicação da música pela propaganda do regime:

O Canário Vai Cantar (1978): Pois é, lembra de 1974? Mingo tentou de novo na Argentina. No entanto, como diziam os hermanos, o que acabou chorando mesmo foi a galinha brasileira e ficamos em terceiro lugar.

Enfim… ninguém morre mais por falta de conteúdo d’Os Incríveis para conhecer a banda. Resta dizer que, da formação original, apenas Netinho e Risonho seguem vivos. Mingo faleceu em 1995, aos tão somente 52 anos, vitimado por um derrame cerebral. Manito e Nenê ainda participaram da formação do The Originals, que fez revisões dos sucessos da Jovem Guarda junto de membros do The Fevers e do Renato & Seus Blue Caps em 2005. Manito foi vitima de um violento câncer na laringe e faleceu aos 68 anos, em 2011. Já Nenê, um dos melhores baixistas do Brasil, nos deixou em 2013, aos 65 anos, por conta de um câncer de pulmão.

Nenê junto de Raul Seixas em 1985. Baixista, assim como Mingo e Manito já não estão mais entre nós. Abaixo, Netinho e o filho Sandro (ao centro) Eles e os outros três jovens estão juntos na missão de tocar adiante o nome d’Os Incríveis Reprodução)

 

Falando em dois casos de câncer na banda, Netinho escapou de um na laringe em 1994, mas a única coisa que perdeu foi a capacidade de cantar por conta dos danos as cordas vocais que sofreu. Ainda comanda uma nova formação do grupo que, volta e meia, aparece na mídia com shows e DVDs relembrando o passado. É o tal status de cult que Os Incríveis receberam e que não os obriga mais a ficar pensando em inéditas nesta altura da vida. Quanto a Risonho, o talentoso guitarrista solo da banda, anda meio sumido da cena, mas ainda vivo até onde se sabe.

E assim, com esta trajetória tão intensa contada, esperamos ter lhe esclarecido um pouco sobre esta banda única em nossa música. Os Incríveis merecem muito o apreço de quem entende e conhece melodia neste país e não foi por falta de bons trabalhos que assim o fizeram. As musicas da bandas estão por ai na internet para qualquer um, assim como tantas histórias mais. A nossa reverencia fica aqui ao quinteto que fez muito mais do que ser, simplesmente, um a mais na Jovem Guarda!

Felicidades e até a próxima sexta no nosso SnaB!

4 comentários em “Som n’A BOINA #04: Os (incompreendidos) Incríveis”

  1. André, meu campeão!

    Essa me quebrou, uma postagem espetacular de nossa música. Muita gente boa nesta época e só por ser no regime militar (fase melhor que nesses últimos 13 anos onde tivemos sim uma ditadura branca da corrupção, o resultado estamos vendo, só não vê quem não quer), claro sou contra qualquer tipo de regime ditatorial e imposto. Porém nesta época precisa alguma coisa ser feita. O mal dos militares não foi acabar com a bagunça institucional, mas sim se manter no poder (Brasil, Nunca mais. nem preciso citar o autor esse livro serve também para os dias atuais). Disseram que tomariam o poder e logo fariam eleições diretas e isso levou 21 anos, gostaram do poder. Não sou contra militar no poder, até porque acho que o lugar deles é nos quarteis e manter a ordem fora deles, porém meu caro André, se um militar concorrer em eleições diretas, isso é democracia, aconteceu isso em 1955 com Eurico Gaspar Dutra (claro apoiado por outro ditador Getúlio Vargas) e se elegeu. Fora isso sou contra. Mas querer incriminar um maravilhoso conjunto como os incríveis ou outros por fazer música de acordo com o regime? isso é demais. A música “Eu te amo, meu Brasil” é Hino para qualquer regime, é onde podemos expressar nossa vontade de mudança. Só alguém como eu, professor de História, Filosofia, sociólogo e que viveu neste período, e que não participa ou participou nunca de nenhum partido e que o meu lema é ser Humanista que pode avaliar. Essa música não tem ideologia, essa música é hino da democracia e deve ser cantada nas ruas como hino, como falei de qualquer regime, é música para encher de brios o nosso coração e mudança de vida para melhor. Mal(u) faz apoiar muitas músicas que incitam a desordem. a violência, e a corrupção. Sim pois corrupção não é só roubar dinheiro de um povo sofrido, mas sim a Inveja, o desamor, a ganância, o ódio, a vaidade, a arrogância e tantos outros adjetivos.
    Te amo meu Brasil, sem rancor sem falsas ideologias e muito mais amor!
    Adalberto Day cientis Social e pesquisador da história em Blumenau

  2. André,
    Desculpe o erro. Onde coloquei Dutra 1955, é Governo Dutra 1946-1951, foi tirado do poder o Getúlio que retornou em 1952. Não cabia mais ele ficar no poder ao fim da segunda guerra (1945) alguém que apoiou o Hitler durante a maior parte da guerra. História se faz com conhecimento e não mentiras!
    Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau.

  3. Até hoje o melhor review que li sobre a banda aqui na internet (e só aqui mesmo, pois em revistas especializadas(?) sobre música, antes da internet, nunca encontrei nada)! Mas como eu Acabei gostando dessa INCRÍVEL banda? Pra começar, mei pai tinha um único disco, aquele da capa amarela (4ª versão, lançado pelo selo Rosicler “Chantecler” em 1982), e ele só escutaca a faixa “O Milionário”, isso quando eu era criança. Um brlo dia, quando eu já tinha 11 anos, rersolvi ouvir o disco inteiro, e pra desespero dos meus pais… eu adorei! Ouvia àquele disco quase todo dia! Até que deixei de ouví-lo, quando estava na adolescência. Muito tempo depois (de uns dois anos pra cá), depois de aprender à curtir algumas bandas dos anos 1960, entre elas The Beatles, me lembrei daquele longínquo disco d’Os Incríveis da capa amarela, e procurei por ele pra ouvir. Quanta satisfação eu senti de ouví-lo de novo, cada música, cada lembrança da minha pré-adolescência! À partir daí, comecei à conhecer cada um dos trabalhos que a banda registrou, e só fui gostando, e gostando, e curtindo cada vez mais! Hoje gosto muito de ouvir cada um dos discos da banda, mas tenho especial carinho por àquele ainda da fase “twist”, que um dia na minha vida me despertou interesse… Forte abraço!

  4. Aproveitando o espaço, como se chama o ritmo/estilo da música Do Re Mi do disco da capa amarela de 1965 (aquela música que o ritmo é o tum/tum/tum/tum/tum… igual no desenho do pica-pau e o corvo Jubileu e a velha da pipoca e também no filme “O Segredo dos Animais”, na hora da dança com o Mike Maluco)? Curiosamente esses dois eventos que eu citei se passa numa fazenda, num celeiro, (no desenho do lado de fora, e no filme do lado de dentro). Até hoje não descobri o nome desse ritmo…

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