Som n’A BOINA #11: ‘Infinite’, o novo e excelente álbum do Deep Purple

(Douglas Sardo)

(Reprodução)

Após uma semana nos recuperando das maluquices de Big Boy, estamos aqui novamente com o SnaB. E se o lendário DJ gostava de trazer lançamentos saindo do forno, nós vamos nessa pegada também.

Semana passada, precisamente dia 7 de Abril, foi lançado o novo álbum da banda britânica Deep Purple, intitulado Infinite. Um trabalho muito bacana, consolidando o bom momento do grupo sob a batuta do produtor Bob Ezrin. Apesar dos problemas de saúde do lendário baterista Ian Paice, o Purple segue firme e forte com mais esse lançamento e nova turnê agendada para o mês de Maio.

Quando se tem uma história de praticamente 50 anos na música, ás vezes fica difícil ter o que dizer. Isso acontece com vários artistas, como os Rolling Stones, que passaram mais de dez anos sem lançar um novo álbum de estúdio (e quando o fizeram lançaram um disco de covers, um bom disco é verdade, mas de covers).

Com o Deep Purple não é muito diferente. Após idas e vindas em suas formações a banda se viu com o desafio de fazer música sem ninguém mais ninguém menos do que Jon Lord, tecladista que ganhou o respeito e admiração de todos na cena roqueira por seu talento acima da média.

Após a saída de John em 2002, o Purple lançou Bananas em 2003, e Rapture of the Deep em 2005, com Don Airey no lugar do lendário tecladista. Mas após esses trabalhos eles só voltariam a lançar algo novo quase uma década depois.

Como a imagem denuncia, Lord tinha uma bagagem fantástica de música clássica, sendo um dos principais alicerces do som do Deep Purple (Reprodução)

O grupo evidentemente sentiu a dificuldade, e preferiu ficar apenas fazendo shows nesse período. Porém, com a sentida morte de Lord em 2012, entraram novamente em estúdio para algumas músicas em homenagem ao velho amigo e outros temas para compor Now What?!, lançado em 2013.

A novidade na época foi a participação do produtor Bob Ezrin, que conseguiu extrair o melhor da banda com um som bastante coeso. E ele está de volta junto de Ian Gillan, Roger Glover, Ian Paice, Steve Morse e Don Airey em Infinite, que infelizmente corre algum risco de ser o último trabalho dos caras (esperamos que não!).

Bob Ezrin, que já trabalhou com gente do naipe de Lou Reed, Alice Cooper, Kiss e Pink Floyd, é o novo parceiro do Deep Purple, inclusive sendo creditado como compositor em todas as faixas originais de Infinite (Reprodução)

O novo álbum foi gravado em 2016, em meio a um momento complicado para o Purple. Não, dessa vez não se trata de velhas brigas de egos entre os integrantes, mas sim de um problema de saúde. No dia 14 de junho de 2016, em meio a uma turnê na Suécia, o baterista Ian Paice sofreu um começo de AVC (acidente vascular cerebral). O músico de 68 anos tomou um baita susto ao acordar de manhã sentindo o lado direito do corpo anestesiado. Felizmente ele se recupera bem, apesar de ter ficado triste em ter perdido os primeiros shows do Deep Purple desde a fundação da banda em 1967-1968.

O susto foi grande, mas Paice estará na The Long Goodbye Tour que começa em 13 de Maio de 2017 na cidade de Bucareste, capital da Romênia. E o que podemos dizer é que o Purple chega para essa turnê de nome bastante sugestivo com um excelente disco no bolso. Infinite é uma evolução do que se ouviu em What Now?!. Essa formação da banda finalmente alcançou uma sonoridade mais forte, e muito disso se deve ao trabalho de produção de Ezrin.

As fotos promocionais acompanharam o clima gelado da capa. Da esquerda para direita: Glover, Airey, Gillan, Morse e Paice se aventurando na neve com direito a Husky Siberiano e tudo (Reprodução)

Em Time for Bedlam, que abre o disco, temos uma introdução bem incomum, com Gillan falando algumas coisas com sua voz processada para parecer um robô ou algo do tipo. Mas é só no início, depois o hard rock firme da banda dá as cartas nessa excelente canção, com destaque para as guitarras de Steve Morse e os teclados de Don Airey, emulando um pouquinho aqueles duelos frenéticos entre Richie Blackmore e Lord nos anos 1970.

Tem vídeo para essa música, tosquinho é verdade, mas tem…

Já em Hip Boots o destaque é Ian Gillan, que por sinal canta muito bem em todo o álbum. Mas aqui o interessante é mesmo notar a letra bem ao estilo dele, sem nada de muito profundo pra dizer, macaco velho do rock que é. All I Got is You traz uma pegada diferente, meio épica, mas o som pesado continua muito bem.

O vídeo para essa música já ficou mais decente…

Para alguns fãs, em One Night in Vegas a banda emulou um pouco a sonoridade que tinha no meio dos anos 1970, quando David Coverdale e Glen Hughes entraram na banda trazendo um som mais funk. Eu particularmente achei o teclado de Don Airey excelente aqui.

Ian Paice mostra porque é uma lenda na introdução matadora de Get Me Outta Here, com um som muito robusto. Aí vem The Surprising, uma música que dividiu opiniões. Tem gente que gostou bastante do ar meio épico-progressivo, enquanto alguns (eu, inclusive) acharam ela meio perdida, principalmente o solo de teclados, lembrando uma coisa oriental demais que a meu ver não combina muito com o som da banda.

O som segue com Johnny’s Band, outra música que fez alguns torcerem o nariz, pois claramente se trata de um filler, aquela música meio boba que só está ali para encher o disco. Mas eu curti as letras bem ao estilo Gillan de ser, parece até uma sátira da própria banda, bem engraçada. Já em On Top of the World temos uma certa continuação da vibe do começo do disco, com o fim da música sendo uma espécie de mini-discurso com voz processada. Achei meio desnecessário, apesar da piadinha do final.

Steve Morse não deixou a peteca cair nos solos de guitarra. É claro, Blackmore é uma lenda e será sempre parte do DNA da banda, mas todos haverão de concordar que Morse é bem menos mala (Reprodução)

A última faixa original do álbum é Birds of Prey, que conta com um solo poderoso de Steve Morse. Muita gente torce o nariz para o trabalho desse guitarrista, até porque, como se diz em inglês, big shoes to fill, ou seja, o cara tem uma responsabilidade enorme de substituir Richie Blackmore, e claro, ele não pode simplesmente copiar o estilo do antigo guitarrista, pois seria alvo de acusações. Mas ele faz sim um trabalho bastante honesto e com muito talento, tantos nos disco quanto nos shows.

Enfim, Roadhouse Blues. Trata-se de um cover do clássico do The Doors, mas não se preocupe, o Purple passou longe da pretensão aqui e fez uma versão bem no estilo apenas por diversão, até porque não dava para competir com um dos hinos de Jim Morrison.

Como manda a moda vigente, existem versões especiais (edição luxuosa) com músicas extras, os famosos outtakes, como Paradise Bar e Simple Folk, além de versões ao vivo de clássicos como Highway Star.

O importante mesmo é o álbum em si, que ficou excelente! O Purple deu mais uma aula para as bandas mais jovens de como fazer um disco de Rock. Fica a nossa torcida para que não seja o último trabalho desse grupo lendário! E relembrando, a turnê que pode ser a despedida da banda começa em Maio, e infelizmente não tem previsão de passar pelo Brasil. De qualquer forma é sempre bom saber que uma lenda como Deep Purple segue na estrada!

Por hoje é só pessoal, espero que tenham gostado e até o próximo SnaB!

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