A lição de Francielle

(Arquivo Pessoal)

Era uma jovem, na flor da idade, sonhadora, com ar de guerreira e vivendo o que tanto trabalhou para um dia viver. O mesmo que nós todos, amigos-irmãos do jornalismo, vivemos intensamente nessa ciranda de informações da notícia.

Foi aluna, acadêmica, estagiária, jornalista. Seguiu a cartilha, permitiu-se ir além do padrão, e tudo isso acompanhado de um belo e sincero sorriso de satisfação daquela que segue a máxima que já dizia que “quem trabalha com o que gosta não trabalha, se diverte”.

Nesta carreira curta ainda – cinco anos de jornalismo apenas – pouco me recordo dela. Sinceramente aos amigos, se a encontrei em algum momento não me recordo com clareza. Mas nestes dias derradeiros de sua passagem em nosso meio não pude ficar indiferente a lição que ela nos deixava: Dentro das paredes frias de um hospital, em volta de máquinas inanimadas, homens e mulheres de branco e luzes alvas, na maior de suas guerras, ela procurava nos inspirar com suas mensagens e recados para a vida: eu não desisto, a luta continua, vamos sorrir.

Ela lá dentro, lutando o combate maior da vida. Nós cá fora, lutando o combate maior do cotidiano, tomando como inspiração a inspiração dela em buscar todas as forças de si para encarar uma das mais devastadoras adversárias da alegria – o câncer – com olhar otimista mesmo diante das adversidades. Como não se sentir tocado? Não enviar a ela todas as forças possíveis para que vencesse o combate? Como não ser grato pela lição que ela nos dava a cada sinal de otimismo que vinha de dentro daquelas paredes frias do hospital?

(Arquivo Pessoal)

Foi a última grande reportagem de Francielle. Valente, sorridente, inspiradora, vencedora. O câncer pode dizer que ganhou, mas não se vence quem sorri até o último sinal de fogo no campo da grande prova. Ela desembarcou deste trem chamado terra na manhã desde 23 de agosto de 2017. Era cedo, 6h15, aos tão jovens e vibrantes 31 anos. Mas partiu em paz, nos deixando com aperto, saudade e algumas lágrimas, é verdade, não vamos mentir.

Só que, nesta partida tão precoce, ela nos deixou uma lição para pensar, para absorver: Nós, nas batalhas mais tenebrosas e pesadas que encontraremos a nossa frente, não podemos deixar de ir a luta sem as armas mais importantes que o espírito nos dá: Otimismo e alegria. Otimismo para acreditar sempre que haverá uma luz lá na frente independente do tamanho do mar de trevas. Alegria para que cada barreira superada seja feita com um largo sorriso e muita inspiração em corpo e mente.

E não só na vida profissional, lidando com os dead lines da vida, mas em todo o conjunto da obra. Se a tempestade parece escura e impenetrável, a senha é encher-se de toda a confiança, de todo o otimismo, de toda a alegria que há em você e enfrentar cara a cara, com um sorriso na face, o desconhecido e ameaçador. Podemos tropeçar, chorar, cair e se machucar, mas fraquejar nunca, jamais!

(Arquivo Pessoal)

Não sei se acertei na lição que Francielle nos deixou. Não sei se consegui ler nos seus sorrisos e mensagens inspiradoras aquilo que realmente nos motiva a enfrentar nossos pesadelos de olhos abertos, mas certamente cada colega de jornada tem sua lição para tirar do que ela nos mostrou enquanto esteve cara a cara com a doença. Ela não perdeu, ela venceu, segue um novo caminho no firmamento e será, para nós, uma eterna inspiração.

A BOINA, em nome deste jornalista e de seus colunistas, deixa a família, amigos e colegas da querida Francielle Furtado nossas mais profundas condolências e os desejos de força e paz em cada coração agora dilacerado, mas brevemente pacificado. A luta continua, e ela estará nos inspirando.

Grazie mille, Fran!

2 comentários em “A lição de Francielle”

  1. André,
    Bela reportagem falando sobre este pequeno tempo de jornalismo da Francielle Furtado, mas que foi de grande valia e nos deixou um ensinamento pela sua competência e habilidade no trato das noticias.
    SIga em paz para a eternidade e que DEUS a receba de braços abertos!
    Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau.

    1. meu querido Andre, estou terminando minha noite agora no bistrô,e me deparo com essa homenagem,que me fez encher os olhos de lágrimas, vc conseguiu transcrever o sentimento de gratidão e de perda.que a paz encontre a família enlutada,tenho certeza que a missão dessa menina foi cumprida.

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