Cooperativismo: O melhor meio para progredir

O cooperativismo é o melhor meio para alcançarmos o desenvolvimento econômico e a igualdade social.

Cooperar, uma forma simples e sincera para garantir prosperidade econômica, segurança e benefícios para você e o grupo em que você está. Ideias de mais de um século que não morrem e aparecem cada vez mais fortes atualmente (Reprodução)
Cooperar, uma forma simples e sincera para garantir prosperidade econômica, segurança e benefícios para você e o grupo em que você está. Ideias de mais de um século que não morrem e aparecem cada vez mais fortes atualmente (Reprodução)

Por vezes, ouvi a frase acima em uma série de comerciais antigos do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agraria) que incentivavam a organização de cooperativas rurais para o desenvolvimento dos campos, parte das políticas propostas pelo então presidente Ernesto Geisel, e que, talvez, não tenham la surtido tanto efeito por conta do crescente êxodo rural nos anos 70 e 80.

No entanto, deixemos a história de lado por momento e damos ênfase na frase em si, coisa que em qualquer tempo, seja ele de crise ou não, está em moda e dita relações financeiras de forma bem mais eficiente e participativa do que um simples banco: O cooperativismo. A arma secreta nada secreta de uma sociedade organizada para, como diz a citação, alcançar o desenvolvimento econômico e a igualdade social.

Esta maneira de progredir de mãos dadas não é de hoje, já vem desde o século XVIX, quando buscava-se em meio a revolução industrial que transformava – e tornava explosiva – as relações de trabalho (especialmente entre patrões e empregados) um novo meio de se progredir sem embates grevistas ou exploração de trabalho. Era como tirar da mão do patrão as decisões e colocar nas mãos dos próprios trabalhadores o poder de decidir, de ter propriedade e, com isso, receber.

O nascedouro: Rochdale, Inglaterra

A pequena loja na Rua Toad, em Rochdale. Foi neste prédio de tijolos a vista que nascia a primeira cooperativa do mundo. Hoje, um museu registra esta história pioneira (Reprodução)
A pequena loja na Rua Toad, em Rochdale. Foi neste prédio de tijolos a vista que nascia a primeira cooperativa do mundo. Hoje, um museu registra esta história pioneira (Reprodução)

O pilar do que seria o cooperativismo pelo mundo praticamente nasceu em 1844, quando 28 operários (27 tecelões e uma tecelã) fundaram na cidade de Rochdale, Inglaterra, a chamada Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale, a primeira organização cooperativa do mundo, onde seus membros contribuíram, inicialmente, com um pequeno capital de 28 libras e um diminuto estoque de produtos como manteiga, farinha, açúcar, aveia e velas em uma loja num prédio da Rua Toad, naquela cidade.

O início foi difícil, as primeiras tentativas de montar a cooperativa foram fracassadas e as dificuldades para juntar o capital inicial eram imensas por conta a desproporção de salários dos primeiros tempos da revolução industrial, mas a ideia prosperou. E mais, muito além do crescimento e aumento do estoque e variedades de produtos a preços acessíveis, a iniciativa estabeleceu sete princípios até hoje seguidos pelas cooperativas em todo o mundo:

  1. Adesão livre e voluntária
  2. Controle democrático pelos sócios
  3. Participação econômica dos sócios
  4. Autonomia e independência
  5. Educação, treinamento e informação
  6. Cooperação entre cooperativas
  7. Preocupação com a comunidade
A OCB - Organização das Cooperativas Brasileiras. São 7600 organizações no país, um dos mais importantes neste segmento no mundo (Reprodução)
A OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras. São 7600 organizações no país, um dos mais importantes neste segmento no mundo (Reprodução)

Hoje, o mundo inteiro se rende aos benefícios de organizações cooperativas que espalham-se por vários rincões. Mais de um milhão de pessoas em vários países são detentoras de capital cooperativo, sendo que há três vezes mais membros de cooperativas do que acionistas de empresas privadas no globo.

Só em países como Finlândia e Áustria, mais da metade da população é cooperada e o Brasil não fica atrás, com 7600 cooperativas instaladas, cerca de 7 milhões de membros e sendo responsáveis por cerca de 5,5% do PIB. Números expressivos que mostram a força deste modelo pelo mundo.

O Vale: Larga experiência em cooperativismo

Muito se equivoca ao pensar que Ouro Preto teve a primeira cooperativa brasileira em 1889. A ainda jovem colônia Blumenau era, puramente, uma cooperativa rural mantida por grande parte dos colonos que aqui chegaram e se estabeleceram. Era a Kulturverein (Reprodução / Angelina Wittmann)
Muito se equivoca ao pensar que Ouro Preto teve a primeira cooperativa brasileira em 1889. A ainda jovem colônia Blumenau era, puramente, uma cooperativa rural mantida por grande parte dos colonos que aqui chegaram e se estabeleceram. Era a Kulturverein (Reprodução / Angelina Wittmann)

Quem mora no Vale sabe muito bem como é uma cooperativa, afinal, segundo o que registra a arquiteta e entusiasta da história Angelina Wittmann, a primeira atividade cooperativa do país não fora a de Ouro Preto, em 1889, mas sim a organizada pelos próprios colonos de Blumenau em 1863. A chamada Kulturverein, fundada por Willhelm Friendenreich e sob a coordenação do próprio Dr. Hermann Blumenau. Tratava-se de uma organização de produção agrícola composta por grande parte dos colonos da então jovem comunidade as margens do Itajaí-Açu.

O tempo passou, e o cooperativismo como meio de sobreviver passou a ferramenta de desenvolvimento de famílias e segurança financeira. No nosso meio, várias organizações cooperativistas nasceram ligadas, em grande maioria, as fábricas do Vale e criadas pelos próprios funcionários fazendo frente as dificuldades econômicas e carestia de outros tempos. Neste contexto, duas cooperativas cresceram e prosperaram no cenário da atividade no país, ambas nascidas no mesmo ninho: A Cia. Hering.


A primeira, nascida da mão de 101 pessoas (funcionários e dirigentes da Hering) em 16 de março de 1944, seria uma das principais referencias no cooperativismo de abastecimento de bens no país, era o nascimento da então CooperHering, mais tarde transformada em Cooper e que, atualmente, conta com 14 filiais, sendo cinco em Blumenau, quatro em Jaraguá do Sul, duas em Indaial, uma em Rodeio e uma em Ibirama, num ritmo de crescimento comparável aos grandes supermercados do país.

A segunda tornou-se a maior potência no segmento de cooperativismo de crédito e referencia nacional no setor. Criada por 21 funcionários da Hering em 26 de novembro de 1951,  a CrediHering surgia como forma alternativa aos bancos e proporcionando maiores rendimentos e segurança financeira aos operários da Hering. Anos mais tarde, o velho nome de guerra era substituído por Viacredi, mas a tradição de bons serviços e preservação máxima dos princípios cooperativistas era a mesma e este rigor a levaria a ser uma das maiores do país em número de cooperados. Uma marca fabulosa numa região onde dar as mãos é a melhor política.

Sede da Viacredi, no Bom Retiro. Criada como CrediHering em 1951, a cooperativa é uma das maiores do país em número de cooperados e é uma verdadeira potência no segmento, com agências no Vale (Reprodução / New Age)
Sede da Viacredi, no Bom Retiro. Criada como CrediHering em 1951, a cooperativa é uma das maiores do país em número de cooperados e é uma verdadeira potência no segmento, com agências no Vale (Reprodução / New Age)

Com dois exemplos deste naipe no nosso próprio cercado não há dúvidas que o cooperativismo, assim como descrito na simples frase no início desta crônica, é a melhor forma de alcançar desenvolvimento econômico e igualdade social. Dar mãos com pessoas preocupadas com os mesmos propósitos e determinadas a facilitar a vida do próprio círculo em que se integram é prova de aproximar soluções, proporcionar maiores ganhos e tranquilidade, seja na manutenção da própria família e nas finanças. E em tempos de crise, a segurança financeira é ponto de honra.

Não é preciso tomar o Vale apenas como exemplo de cooperativismo nos dias atuais. As boas iniciativas das cooperativas estão espalhadas em cada canto do Brasil, crescendo dia a dia e trazendo neste crescimento os seus associados, pessoas independente de posição social ou outro elemento e que tem em comum com seus semelhantes o valor pelo trabalho e colaboração com o grupo.

(Reprodução)
(Reprodução)

Para conhecer melhor o trabalho de uma cooperativa, acerca das vantagens de ser cooperado e de como esta roda funciona, basta procurar uma organização do gênero mais próxima de sua casa para se associar. Afinal, a entrada é livre e voluntária, e só precisa de uma mão amiga e que queira, assim como os a sua volta, contribuir com o crescimento social dos associados.

Cooperar é isto, valores de mais de um século que nunca morrem e que são, simplesmente, o melhor meio para se alcançar o desenvolvimento econômico e a igualdade social.

As organizações estão ai para provar! Associe-se você também!

1 comentário em “Cooperativismo: O melhor meio para progredir”

  1. André,
    O Cooperativismo sempre foi importante para nossa Blumenau e região, e como você coloca já desde a fundação nossos primeiros habitantes já se organizavam.
    É sempre bom salientar que oficialmente a Cooperativa da Empresa Industrial Garcia foi fundada 1 dia após ao da Hering, apenas questões burocráticas pois já existia sem se oficializar. Antes dessa Cooperativa a Empresa Industrial Garcia desde a década de 1920 possuía um armazém para os empregados no mesmo local.

    A Cooperativa de consumo dos empregados da Empresa Industrial Garcia, fundada em 17 de março de 1944 (uma das primeiras de Blumenau), com o apoio do Senhor Ernesto Stodieck Jr.,diretor da Empresa Garcia. A ideia foi de um grupo de colaboradores que buscava a solução para a escassez de produtos básicos, durante e pós-guerra. Localizava-se na rua Amazonas logo após o estádio do Amazonas e ao lado da antiga ponte de acesso a Rua Emilio Tallmann.
    Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau

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