O silencio de Cauby (e a eterna gratidão)

Uma grande e potente voz, carisma de sobra e uma elegância única ao subir aos palcos e deslumbrar a imortal platéia. Calou-se no último domingo para sempre a voz de Cauby Peixoto, uma das vozes mais importantes da música brasileira Reprodução)
Uma grande e potente voz, carisma de sobra e uma elegância única ao subir aos palcos e deslumbrar a imortal platéia. Calou-se no último domingo para sempre a voz de Cauby Peixoto, uma das vozes mais importantes da música brasileira (Reprodução)

Pudera Deus! Estamos tomando tantos golpes mortais no mundo da música que já estamos pedindo para que 2016 acabe logo para não nos levar mais tanta gente boa. Perdemos Natalie Cole, David Bowie, Prince, Billy Paul, tantos outros... E, agora, é a vez do Brasil tomar uma pancada gigante e sem calculo definido em nosso cancioneiro. Na noite do último domingo (15/05), o país deu adeus a uma das vozes mais possantes e marcantes de nossa música: Cauby Peixoto.

Carioca de Niterói, era o caçula de seis irmãos (Aracy, Moacyr, Andyara, Arakén e Yracema). Tinha uma infância alegre e animada mesmo com as dificuldades da família e, rodeado por músicos no seio familiar não tinha como fugir do ofício. Ainda bem que não, pois mesmo trabalhando para ajudar nas contas da casa pedia canjas em boates de grande monte, onde foi revelado.

Nascido no seio de uma família de músicos, Cauby não tinha como sair da canção, e por lá ficou, navegando por vários estilos musicais e sendo peça importante na introdução do Rock no país, nos anos 50 Reprodução)
Nascido no seio de uma família de músicos, Cauby não tinha como sair da canção, e por lá ficou, navegando por vários estilos musicais e sendo peça importante na introdução do Rock no país, nos anos 50 (Reprodução)

Gravou o primeiro álbum – Saia Branca – em 1951, sem muita repercussão. No entanto, um tapa no visual ajudaria muito, especialmente na marca maior que seria do cantor: A das roupas e penteados extravagantes, mas cercadas de um charme especial. Conquistando públicos com a voz, Cauby foi convidado para excursionar aos EUA em 1955, onde ficou até 1958 indo e voltando. Para a música nacional, as viagens trariam também um novo estilo ao nosso cancioneiro: Era o Rock, que começava a entortar os americanos e que, na voz do jovem carioca, começaria a descabelar os brasileiros, ainda estranhando aquele som louco e rápido.

Cauby não continuaria com o estilo, mas através dele o Rock nasceu no país, o que originaria uma leva de cantores e canções no decorrer do tempo, ainda mais com o nascimento da Jovem Guarda em fins da década dos 50. Já o bom cantor voltou as suas viagens por diversos estilos musicais, sempre apresentando-se impecavelmente, lembrado com um ícone de um tempo da música nacional inesquecível. Lembranças estas cultivadas junto da quase-irmã Angela Maria, que por vezes dividiu palcos com Cauby até o fim da vida.

Cauby e Angela Maria, eternos irmãos em música Reprodução)
Cauby e Angela Maria, eternos irmãos em música (Reprodução)

Nos últimos anos da vida viveu um tanto a margem da mídia, mas não precisava de mais glórias na vida, apenas o público fiel que o acompanhava nas boates e casas de shows pelo Brasil. Vivia em São Paulo, aos cuidados da empresária e sua maior fã, Nancy Lara, a qual cuidava dos marcantes figurinos da agenda de shows, cenários e repertório. Tinha parada cativa no Bar Brahma, clássico ponto boêmio da capital paulista localizado justamente na esquina mais famosa da cidade – Ipiranga com São João – alternando com shows e turnês pelo país.

Infelizmente, a partida de Cauby foi no meio da turnê que fazia com a eterna amiga Angela Maria, celebrando os 60 anos de carreira. Deu entrada no Hospital Sancta Maggiore, em Itaim Bibi, Zona Sul paulista no último dia 9. E, de lá, só sairia para a eternidade. Aos 85 anos, 60 de carreira, vivendo como gostou de viver. Elegante, boêmio, sorridente e de voz inesquecível. A gratidão da música nacional a Cauby Peixoto é imensa…

No palco do Bar Brahma, próximo a casa onde vivia, em SP. Era na esquina da Ipiranga com a São João onde reunia a platéia fiel para mais uma noite boêmia no ponto mais clássico do mundo paulistano Reprodução)
No palco do Bar Brahma, próximo a casa onde vivia, em SP. Era na esquina da Ipiranga com a São João onde reunia a platéia fiel para mais uma noite boêmia no ponto mais clássico do mundo paulistano (Reprodução)

E, nas palavras deste jornalista, raramente o vi falar… Muito mais, o vi cantar. Um senhor música, um exemplo da imortalidade do que é de melhor de nosso cancioneiro.

Para encerrar… Não óbvio, a única mulher (em música) que viveu com Cauby: Conceicãaaaaao!

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=SK88bmpcvgk]

E, como faixa-bônus, um incrível encontro de três vozes fabulosas: Cauby e os Agnados Timóteo e Rayol, na CNT Gazeta, no início dos anos 90. Nos gogós, cantando a apoteótica Sangrando, de Gonzaguinha.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=rf3QrgYGnMM]

1 comentário em “O silencio de Cauby (e a eterna gratidão)”

  1. André,
    Mais uma postagem importante.
    Cauby teve seu auge na música brasileira. Chegou a ser considerado o melhor cantor em certa oportunidade. Eu particularmente não curtia suas músicas e nem sua postura. Porém quero dizer que o respeitava muito e parte um dos cantores mais importantes de nossa história.
    Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau.

Deixe uma resposta