O Scheik fechou a cortina, e poxa… a gente não sabia que era o fim do espetáculo.
Ficamos todos sentados, olhando para o lado, onde foi o nosso ator?
Naquela coxia escura detrás do palco, as cortinas balançavam ainda, mas sem ninguém ter passado por elas. E no estalo do tempo, me vi próximo da catedral, ao lado da reta da boemia que eram as cadeiras de plástico do velho Tunga.
Ainda um iniciante da imprensa, correndo rumo as salas do velho Senac, era abordado pelo velho Scheik, sentado calmamente numa daquelas cadeiras, abraçando a surrada pasta de mão e, vez sim ou não, acompanhado de outro colega num papo constante.
Scheik, meu caro! Esse que podia chamar de irmão de microfone com afirmação total. Naquele período de 2013, primeira vez nos estúdios da Rádio Clube como um locutor, convidado amavelmente pelo Eduardo “Henri Castelli” França para uma aventura dominical. O velho lobo e o Mazinho nos antecediam no horário, aquela troca saudável de horário que sempre rolava brincadeiras e vivas.
Logo no primeiro dia, um primeiro cumprimento com olhar de choque, ao entrar no estúdio e dar a notícia daquele 27 de janeiro de 2013: “vocês estão sabendo do que aconteceu no Rio Grande do Sul? Fogo em uma boate, muita gente morreu…” . Não era para ser assim, mas acabei conhecendo o Scheik nos informando da tragédia na Kiss.
Alegre, sempre sorrindo, de prosa fácil, até parece ecoar por onde ando na coxia escura algumas das poesias que tecia e das histórias que contava. De volta ao palco, abrindo as cortinas ante o teatro vazio, é como se a plateia fosse a vida frenética da Rua XV, que não parava para prestigiar sua saudável boemia.
A amizade de estúdio passou ao caminho, em prosas tão intermináveis que me obrigavam (modo de dizer) a chegar atrasado nas noites de Senac. Mariana era a testemunha dos meus atrasos: ela sempre passava por um jovem curioso (eu, claro) debatendo com um veterano escritor e militante cultural de tudo um pouco, do passado ao presente, do “senhor edil” aos tempos de ator.
E ai de mim se não parasse para a prosa! A Rua poderia estar pegando fogo, com seus corre-corres lá e cá, Scheik fazia questão, e nesta questão toda encontrávamos todos, que por momento se juntavam à aquela despretensiosa boemia central. O glorioso Airton Floriani, colega das rotativas d’A Voz da Razão, era testemunha e tinha o ator como um de seus escribas.
Já fazia tempo, admito, que não mais procurava o Scheik para um papo. Nem mesmo o silente telefone, onde perdíamos horas divagando ideias e sonhando em entrar na Sociedade dos Escritores, usava mais. Arrependo, a correria nos tira estes breves luxos.
E uma hora, sem me avisar do fim do espetáculo, o Scheik fechou a cortina e resolveu partir pra outra aventura. A plateia toda, tendo eu aqui como um simples admirador de um cidadão de Blumenau de fato, tomada de surpresa e segurando as lágrimas de um pranto com os últimos traços de prosas inesquecíveis.
É, A cortina fecha para muitos neste correr de tempo, mas tem atores que não deviam ir. Scheik não está mais aqui, mas dos melhores roteiros prosaicos de fim de tarde da Rua XV e do que o Tunga viu, isso estão bem guardados no coração deste velho poeta/escriba.
Vai em paz, Scheik! E um dia, me conta mais destas tuas aventuras por ai.
(Dedicado a memória do vereador e amigo Ivo Hadlich, o Scheik, destes vultos que faziam o fim de tarde na reta da XV ter uma boa prosa)
Em nome da Família agradeço tão lindo depoimento do nosso querido Tio Ivo, aquele que me introduziu no mundo das artes, sim como fez com vários artistas, descobrindo e incentivando vários talentos.