O que o passado nos diz?

Passado…

Eu trabalho com ele muitas vezes quando revisito a história ao nosso redor, mas em outras tenho o péssimo hábito de revisita-lo da forma errática. E sempre dizia pra mim mesmo que a culpa era da minha boa memória, que lembra de detalhes impossíveis e pessoas que, hoje, não tem mais a mesma importância em nosso rumo ou vice-versa.

Recordar é viver, como já dizia um cantor português. As sensações que se provocam quando colocamos o passado diante das nossas retinas mentais são únicas, como se por um relâmpago mental voltássemos no mesmo lugar ou nas mesmas sensações que vivemos lá atrás.

É uma delícia reencontrarmos com momentos nossos que não tínhamos a mesma carga de resposa de antes. Éramos ansiosos, extremamente apaixonados, imaginavamos tanto que dávamos margem até a intrusividade e nos recolhíamos num medo fantasma. Puro inocentes que criavam mundos no universo virtual ou desvendavam o que viria a ser nosso lado adulto ainda na tenra adolescência.

Nossa mente era uma outra casa que habitávamos, com nossos vícios e manias, maneirismos e convicções. E o tempo, esse lazarento, nos faz perceber mudanças o tempo todo, algumas que afetam necessariamente os alicerces do que somos e pensamos, tudo para nos colocar no rumo evolutivo sem perder nossa verdadeira essência humana.

O correr da vida é uma constante de aprendizados, tropeços e ressignificações. Aquilo que era tão importante passa a não ser, aquilo que movia tua emoção para a não mover e aquilo que você julgava ser impossível de deixar seguir torna-se algo descartável, necessariamente descartável em nosso caminho.

Temos nossa mania, em vezes, de querer entender e buscar culpas em nós mesmos por situações não mais ocorrerem ou pessoas não mais nos ter como caras. Isso traz angustia, tristeza e uma frustração cruel, como se você fosse deixado sozinho num salão vazio entre mentes frias.

Outras vezes, ao revisitar nosso passado, driblamos as lições que precisávamos aprender e que tememos revolver no ninho enfestado de formigas vermelhas da nossa cabeça. E tão necessário quanto para aprender e expurgar fantasmas mentais intrusivos e imobilizantes que, quando percebemos, nos vemos outra vez imobilizados por eles.

O passado é uma máquina de emoções, e revisita-lo exige até um certo cuidado para não se fechar num viciante saudosismo ou não ferir pessoas do nosso redor. É preciso revê-lo para ressignifica-lo, para demolir fantasmas antigos e agregar a você mesmo lições e praticas que podem aumentar a compreensão de si mesmo e construir as novas pontes do teu futuro.

Por isso estudar história é algo tão basilar quanto: nos conscientiza ao que pode repetir-se num futuro se deixarmos os revisionistas ferrenhos do passado continuar a dizer que ele era o certo e todos nós éramos os errados. Nós somos uma história sendo escrita, e revisitar o passado nos ensina, mesmo que aperte e machuque, mas ensina.

A recordação que não é mais a mesma, o fantasma que parece te assombrar e que precisa ser enfrentado, a realidade crua e pragmática do mundo que quer, apenas, que você não seja um otário movido pelo medo mas alguém que olhe para trás com reverencia, saudade boa e consciência de que o cidadão ou cidadã de lá é, depois das lapidações e forjas, o ser humano sólido, altivo e corajoso de hoje.

E o que não mais significa nada? Tire fora, conserve só o bom e descarte o hoje, reverencie o que ficou daquele tempo mas, se não mais lhe aquece a alma, abra a caixa e jogue ao mundo. O teu redor de amigos, futuros amores, vivências e aventuras está ai para escrever outras – e novas – paginas de passados que valem a pena ser revistos.

O passado… é duro revive-lo e encara-lo? Lembre-se, se aprende muito com ele, e como a história prega: revisita-lo nos ensina muito sobre nosso presente e futuro.

O que é bom, fica. O que é ruim, segue e deixa a lição. Nada como o ontem, que foi viver, para nos ensinar sobre o viver de hoje.

Gratidão ao meu passado. O bom, o que fica para o meu futuro.

1 comentário em “O que o passado nos diz?”

  1. Que show André, parabéns pelo texto fantástico. Voltar ao passado ressignificando-o com base na nossa consciência e nos nossos propósitos elevados do presente. 👏👏👏👏👏🏆🎤

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