Publicidade anos 70: A mensagem de ontem, hoje (Parte 2)

Retornamos com nossa viagem no tempo nas propagandas de revista nos anos 70.  A primeira publicação em A BOINA teve muitos curiosos e mensagens  interessantes, teve cigarro em forma de canetinha, Pelé, Miele sem barba, precursora da Playboy, rainha da inglaterra, supersônico, Hitler, lei de Gerson e outras tantas curiosas campanhas que, nos dias de hoje, sonham mais curiosas e ousadas do que informativas. Coisas da nossa criativa publicidade.

Hoje teremos mais um especial de 16 recortes de um tempo passado, passando por carros, cerveja, patriotismo e até comunismo doce. Portanto, quem tem curiosidade é muito bem vindo. Venha conosco para mais este especial e se espante a vontade!

Skol (1971) – A Pioneira das latinhas

Skol: A primeira cerveja em lata do país (Oswaldo Hernandez)

Em 1935, o mundo foi apresentado a uma nova forma de consumir bebidas como cerveja e refrigerantes. A americana Krueger Brewing Company foi a pioneira no envasamento de bebidas em latas. Uma novidade que fez o mercado do produto, especialmente da cerveja, aumentar significantemente, especialmente depois dos duros tempos da lei seca americana e da Grande Depressão.

No Brasil, as latas de cerveja chegaram apenas em 1971, nas mãos da sempre redonda Skol, que também instituiu a novidade na linha de refrigerantes que possuía. As primeiras latas, de 350 ml, eram fabricadas com a chamada folha de flandres, uma combinação de ferro, aço e estanho, que enferrujava fácil e interferia no sabor da bebida. Era uma sensação para a época e a empresa não mediu esforços para divulgar a novidade. Em 1972, chegou a ser feita uma edição especial com as cores da bandeira, em comemoração ao sesquicentenário da independência.

Em 1989, também pioneiramente pelas mãos da Skol, chegava a cerveja em latas de alumínio. Coisa que não foi bem recebida de imediato, mas que foi sendo aceita aos poucos, especialmente pela melhor conservação do produto. As latas de alumínio continuam firmes e fortes até hoje e são a melhor pedida para a sede imediata por um liquido gelado.

 

 


VW Fusca 1500 (1971) – O desbravador da Transamazônica

Criatividade dos anuncios do Fusca era indelével, até mesmo no ufanismo das obras faraônicas (Oswaldo Hernandez)

Que a publicidade voltada ao mais popular e icônico carro do mundo eram um show de criatividade, isto todo mundo sabe. O Fusca foi reinventado na forma de ser divulgado para venda e tornou-se ainda mais mitológico do que já era. Este trabalho teve, em grande parte, a mão de Bill Bernbach, um dos papas da publicidade mundial, que foi responsável por tornar o besouro um carro popular, carismático e aceitável no mercado difícil dos automóveis americanos.

No Brasil, mensagens criativas para o Fusca não seriam nenhum problema para a agência que assumisse este trabalho, que aqui dentro de casa não era la muito ingrato. O Volks era o carro mais vendido do país, mas uma boa mensagem foi a fórmula para manter o besouro como uma opção forte diante de veículos mais modernos e funcionais. Nos anos 70 a tendência continuava, e em 1971, até o ufanismo das obras faraônicas do regime foi o alvo, com a predisposição do modelo 1500 (o Fuscão) em cruzar a ainda em construção BR-230, a famigerada Transamazônica.

A menina dos olhos do presidente Emílio Garrastazu Médici era uma espécie de solução mal-pensada para o problema da seca do nordeste, das famílias retirantes, sob o rótulo de conquista da Amazônia. A obra, que era divulgada a plenos pulmões como um grande feito do governo revolucionário, nunca chegou ao ponto final e hoje, além de ser um atoleiro infindável, é a maior faixa de área desmatada da Floresta Amazônica.

A publicidade aproveitou do manancial enquanto deu. E deu até filme publicitário. Veja:


Copersucar (1972) – Doce comunismo

Martelo e foce na Copersucar. Celebração por venda aos russos (Oswaldo Hernandez)

Em tempos de regime militar, onde qualquer menção a símbolos socialistas soava como ameaça, deparar-se com um martelo-e-foice em destaque numa página de revista soava como assustador. Não posso precisar a reação dos puristas e conservadores daqueles idos ao se confrontar com um simbolo temerário destes numa página de revista. Mas quem se assustou e nunca soube porquê, hoje terá a resposta.

Trata-se de uma interessante peça produzida para a Cooperativa de Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Copersucar), que cinco anos depois batizaria a única escuderia de F1 brasileira e latino-americana da história, criada por Wilson Fittipaldi.

A Cooperativa foi fundada em 1959 e teve a responsabilidade de modernizar as técnicas de produção e comércio dos produtos derivados da cana-de-açúcar no país. Além da presença na F1 até 1979, a Copersucar também teve participação intensa nas campanhas do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), o movimento que pregava o estimulo a produção e a compra do carro a Álcool durante os primeiros anos do combustível, hoje ridiculamente chamado de Etanol.

E, para terminar, a publicidade celebrava a venda, por meio do Instituto do Açúcar e do Álcool, 290 mil toneladas de açúcar para a União Soviética. E ainda provocando, tomara que eles fiquem mais doces e as coisas melhorem para todo mundo.


Olivetti (1972) – Tudo vai melhor quando é elétrico

Eletrônica: Uma forma de suavizar as batidas da maquina de escrever (Oswaldo Hernandez)

A pioneira no serviço de digitar em todo o mundo, a primeira fiel companheira de jornalistas, secretárias e escrivães de tribunal. A máquina de escrever apareceu pela primeira vez no modo que conhecemos em 1866, embora a origem do equipamento seja bem mais antiga e sem uma definição certa. Apenas em 1877 ela seria fabricada em massa pela americana Remington. O barulho característico ficou na história e move a mente dos nostálgicos, mas percussionar teclas em vezes pesadas tornava o serviço um pouco mais dolorido.

Só em 1935 é que o mercado veria uma primeira revolução na forma de digitar e um certo conforto para mãos e ouvidos. Surgia pelas mãos da IBM a Electromatic, a primeira máquina de escrever elétrica. Dali por diante, a evolução seguiu firme, desde os aparelhos mais silenciosos e simples de usar até equipamentos com dispositivo de correção. O anuncio ao lado é da linha de elétricas Tekne da Olivetti, uma das populares marcas neste segmento no país. A empresa foi fundada na província de Turim, Itália, em 1908 e era uma das mais populares do mercado, batendo de frente com nomes como Facit, Remmington, Brother e Hermes.

Para se ter uma ideia de longevidade do aparelho, a última fabrica de maquinas de escrever, na Índia, encerrou a produção do equipamento em 2011. Uma veterana em todos os aspectos e que tem o lugar bem cavado na história.


Miojo Lámen (1972) – Nissin não é de hoje não…

Miojo não é de hoje. Tradicional macarrão instantâneo chega aos 50 anos de história neste ano (Oswaldo Hernandez)

Este ano, o bom e velho miojo está comemorando 50 anos de presença no Brasil. O macarrão instantâneo, alívio da fome de milhares de japoneses depois da terrível guerra no pacífico em 1948, virou a solução para a fome imediata, almoço sem perda de tempo e rápido para preparar, embora não seja lá muito saudável. Mas quem vagamente pensava que o miojo nosso de cada dia era algo bem recente, engana-se. Olha ai o companheiro da mesa já estampando anúncios em 1972.

Criado por Momofuku Ando, o macarrão instantâneo é um prato bastante popular na culinária japonesa. O processo de pré-cozimento, ressecamento e fritura faz com que a massa seja feita em menos tempo, naturalmente os três minutos da embalagem. No entanto, por passar por um processo de fritura no meio da produção, a massa tem um nível de cerca de 315 calorias, alto para se manter uma boa dieta.

No Brasil, o macarrão instantâneo chegou pelas mãos da… Miojo. Exato! Miojo era o nome principal da Miojo Produtos Alimentícios, subsidiária da Nissin international, e responsável pela chegada do produto no país, em 1965. Nos anos 80, a Nissin assumiu totalmente a marca no país com o intermédio da Ajinomoto, sendo hoje o sinônimo do macarrão mais comido pelos inábeis da cozinha nos dias atuais. Além de ser a única joint-venture no mundo de duas empresas japonesas.


Artex (1972) – Expandindo domínios

Na busca de novos clientes fora das cercanias de Blumenau, a Artex ataca com belos anúncios (Oswaldo Hernandez)

Em 1972, a Artex já era uma grande empresa despontando dia a dia na indústria têxtil nacional. Referencia em cama-mesa-banho, a tradicional empresa da família Zadrozny dividia parede no sul blumenauense com a também afamada Empresa Industrial Garcia (EIG), e com anúncios como este dava o cartão de visita ao Brasil e a uma das principais concorrentes fora do sul brasileiro. A Santista, de São Paulo.

Faltava apenas um ano para que a Artex iniciasse o processo de incorporação da Garcia, que efetivamente começou em 1973 com as operações conjuntas das duas empresas. A incorporação final aconteceria apenas em 1974, provocando uma metamorfose intensa no hoje Distrito do Garcia, em Blumenau. Anos mais tarde, a Santista, eterna concorrente, seria nada mais que uma marca irmã, já que ambas estariam no catalogo de marcas da Companhia Têxtil Norte de Minas, a Coteminas.

 

 

 

 


Lanterna Eveready (1973) – Um piloto que vale o investimento

Emerson Fittipaldi, assim como Pelé, um bom garoto-propaganda que valia o investimento (Oswaldo Hernandez)

Assim como Pelé, outro bom esportista dos anos 70 era uma aposta certa para a publicidade da época. Garoto-propaganda de marcas como Bardahl e Texaco, Emerson Fittipaldi vivia um dos maiores momentos da carreira e da carteira. sendo figura fácil em vários comerciais, como este da lanterna Eveready, em 1973.

O irmão mais velho de Wilsinho, da qual já falamos no comercial da Copersucar mais acima, estreou na F1 em 1970, como uma jovem promessa do automobilismo brasileiro. Não foi o primeiro tupiniquim a correr na F1, mas foi o primeiro a vencer na categoria, no GP dos EUA daquele ano. Vitória que garantiu ao companheiro de Lotus, o austríaco Jochen Rindt, o título póstumo daquela temporada (Rindt morrera no GP da Itália daquele ano).

Dois anos depois, era a vez do Rato bisar o feito, sendo o primeiro brasileiro campeão da F1, com a mítica Lotus preta-e-dourada. No entanto, 1973, o ano desta peça, não era um bom ano para Emerson. Problemas na equipe e sem ter como combater a força das Tyrrell, perdeu o título para o escocês Jackie Stewart. O mesmo Stewart não teve também um fim de ano muito feliz. Assistiu horrorizado a morte do companheiro de Tyrrell, o francês François Cevert, nos treinos do GP dos EUA daquele ano.

 


Tetra Pak/Klabin (1974) – Do saco para a caixa

O leite Leco foi o pioneiro da embalagem em caixinha, criada pela Tetra Pak nos anos 50 e impressa pela primeira vez no Brasil pela Klabin (Oswaldo Hernandez)

Quem não se recorda de, em algum momento daqueles idos, ter ido a padaria para comprar um pacote de leite? Imaginar que a sagrada bebida láctea de todo dia já foi acondicionada em pacotes plásticos não é nenhuma loucura. Até há pouco tempo este tipo de embalagem era usado pelas indústrias de laticínios e até, de forma menos intensa, pelas empresas de água mineral. Mas carregar leite em plastico não era la uma tarefa fácil. Além de ser mais vulnerável a bactérias era mais frágil e protagonizava acidentes homéricos na cozinha.

Em 1951, o doutor sueco Ruben Rausing chegou a uma formula quase mágica para o melhor acondicionamento de laticínios: Uma embalagem em forma de tetraedro feita em papel cartonado forrado com plástico (dai a origem do nome, Tetra Pak, pelos quatro lados da embalagem). O invento provou ser revolucionário e, em 1952, o creme de leite era o primeiro produto acondicionado nas populares caixinhas. O leite pasteurizado passou a usar desta embalagem três anos depois, sendo aprimorado no tipo longa vida (Tetra Brik), em 1961.

A inovadora embalagem só chegaria para valer no Brasil neste ano do anuncio, 1974, pelas mãos da tradicional Klabin, que serviria primeiramente o leite Leco. , hoje, parte do portfólio da Vigor. A fabricante de papeis seria a responsável pela produção da embalagem até 1978, quando a Tetra Pak instalaria-se de forma própria em Monte Mor (SP). No entanto, os pacotes plásticos de leite de de outros produtos de laticínios duraram um bom tempo nas prateleiras dos supermercados e mercearias. Pelo menos até o fim dos anos 90.


Café-Chic Itap (1974) – Para os coffee-a-hollic de plantão

Xícara descartável. Boa ideia da Itap (Oswaldo Hernandez)

Normal para qualquer profissional elétrico dos dias de hoje, o gole sagrado de café é a dose quase por hora de energia e religamento dos sistemas corporais durante um dia estafante. Em qualquer empresa, escritório ou mesmo em qualquer lar brasileiro, café é uma presença constante, não importando como é servido.

Hoje, naturalmente, muitos tem as próprias xícaras no local de trabalho para se servir do líquido negro. outras vezes, o velho e incômodo copinho plastico sempre é a melhor saída. No entanto, já em 1974, tinha quem via mais a frente. A fabricante de plásticos Itap trouxe ao país uma brilhante ideia para os coffee-a-hollic de plantão: Uma xícara descartável.

Na verdade, tratava-se de um copinho descartável com base plástica. Era só encaixar o copinho na base, tomar o santo café e, quando a vontade passar, apertar embaixo do copo que o mesmo saltava fora direto para a lixeira. Uma ideia como poucas já tinha visto, haja ver que ainda hoje convivemos com os complicados copos plásticos sem suportes, que esquentam a mão, quebram e logo estão estragados. Em temos de reciclar, trazer a própria caneca sempre é uma boa pedida, mas fica a boa ideia da Itap.

 


Skol (1974) – Um outro jeito de vender cerveja

Outros tempos e formas (bem mais inocentes e sinceras) de anunciar cerveja (Oswaldo Hernandez)

Ah, a inocência de outros tempos. Houve um momento no Brasil que vender cerveja não dependida de garotas esculturais em biquínis, da exploração de mensagens machistas e de duplo sentido e, muito menos, de bagunça e festas toscas para induzir fazer beber a qualquer custo. Quem pesquisar melhor, os anos 70 pareciam tratar a cerveja com um pouco mais de respeito nos anúncios. Vide este simpático anuncio da Skol, de 1974.

O que atraia mais a vontade de compartilhar uma cerveja do que a presença dos amigos? Era uma fórmula mágica usar de mensagens simples e que instigavam a sede para se vender a loura gelada. No mesmo tempo, a Brahma apostava em climas alegres para passar a mensagem que queria. Já a Antarctica criava, naquele mesmo 1974, um dos bordões mais famosos desta publicidade. Vinha da boca o mitológico sambista e compositor Adoniran Barbosa a frase de efeito: Nós viemos aqui pra beber ou pra conversar?

O bom humor começou a tomar conta das propagandas de cerveja a partir dos anos 80, e descambou para o fútil nos 90. Fica a lembrança do tempo que anunciar cerveja soava mais inocente e sincero. Bem diferente da bundanização e futilização dos anúncios da loura atualmente. E a Skol não fugiu a esta regra marginal, infelizmente.

 


Piso Eliane (1976) – A força da cerâmica do sul

O elefante comprova a resistência do piso Eliane, um produto de um expoente industrial de Santa Catarina (Oswaldo Hernandez)

Maximiliano Gaidzinski. Este é o nome do pai de uma das mais reconhecidas companhias catarinenses e que, até os dias atuais, é sinônimo de construção e beleza no lar. Não é exagero elogiar, a Eliane é, até hoje, um dos principais expoentes industriais de Santa Catarina. E toda esta história começou na simpática Cocal do Sul, no sul do estado, em 1960.

Além da produção de carvão em Criciúma, o sul do estado é um dos mais importantes polos da produção de cerâmica catarinense. De pequena empresa produtora dos famosos azulejos 15X15, a Eliane montou um completo conglomerado de seis empresa, sendo quatro em Cocal do Sul, uma em Criciúma e uma em Camaçari, na Bahia.

Na época do anuncio (1976), a empresa ainda era uma jovem criança que crescia a passos largos, mas que não deixava de ser abusada a mostrar a resistência dos produtos que fabricava (e fabrica até hoje). O elefante do anuncio que o diga…

 

 

 

 


Yamaha RD50 (1976) – Transito paradão, a moto é a solução

A RD50, da Yamaha, primeira moto fabricada no Brasil. A solução para o trânsito (Oswaldo Hernandez)

Não, você não está lendo errado não. Em muitas das grandes cidades brasileiras naqueles tempos (como São Paulo, retratada no anuncio na passagem subterrânea do Anhangabaú, conhecida como Buraco do Adhemar), o problema do trânsito já era motivo para se pensar em alternativas de meios de transporte econômicos e ágeis. A receita pedia uma moto para muita gente, e nisso, não faltavam opções como Honda e a Yamaha, promovendo a solução do problema no anuncio da RD50, em 1976.

A RD50, famosa pelo som característico que produzia e pela fumaça também característica do escapamento, foi a primeira moto fabricada no Brasil, em 1974. Até ali, tanto Yamaha quanto Honda importavam modelos de motos para o país. A entrada da Yamaha com uma fábrica própria foi um marco para o mercado, além de ser a primeira da empresa nipônica fora do Japão.

Com o lançamento da RD50, o Brasil viveu um boom na venda de motocicletas, antes consideradas artigo difícil de comprar e manter. Pipocaram vários modelos distintos, desde as mais econômicas, como a Garelli 3, Vespa e Caloi Mobilete, até as mais potentes produzidas por Honda e Yamaha, ou de fabricantes e importadores, como Motovi 125 (Harley-Davidson 125S) e Tork.

O que se vê hoje é que a intentona da RD50 deu certo, e o Brasil tem atualmente uma das maiores frotas de motos do mundo, superando dentro de casa até o número de carros.


DNER (1976) – o ônibus para economizar combustível

Em tempos de economia de petróleo, o transporte rodoviário era uma das saídas para as viagens (Oswaldo Hernandez)

Com a crise do petróleo, cujo reflexos ainda se sentiam desde 1973, o Brasil se viu numa gigantesca sinuca de bico, sofrendo com o desacelerar da economia e tendo de procurar formas de poupar a preciosa substância negra para todos os fins, seja industriais, seja automotivos. Dentre tantas campanhas, como até mesmo a de economizar gás de cozinha, uma das mais conhecidas foi a do uso do ônibus rodoviário para grandes viagens.

Foi a forma que o antigo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), hoje Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT) encontrou para fazer a parte que lhe cabia nesta cruzada frenética, junto do Conselho Nacional do Petróleo (CNP) e da Petrobrás.

A iniciativa rendeu até um filme publicitário, em 1979 (abaixo), um tanto angustiante pela lotação da Brasilia do comercial. As mensagens eram outras, sendo outro o pretexto final. Em princípio falava-se em risco de estrada. Pneu que estoura, carro que quebra… . Nada disto, a gasolina era o alvo.

nomistas do petróleo o filme termina com a singela mensagem do jovem motorista que responde aos velhinhos que deixou o pessoal na rodoviária. Em 1977, até os postos de gasolina chegaram a ser fechados nos fins de semana para forçar o racionamento. As campanhas perderam a força no fim da década, com o advento do Proalcool.


Agência Nacional (1976) – Este é um país que vai pra frente…

Amor a pátria: Mensagens simpáticas do regime para manter o “status quo” (Oswaldo Hernandez)

Frase popular de uma das tantas propagandas do regime militar em 1976, a difusão do patriotismo era uma das fórmulas encontradas pelos órgãos de comunicação da presidência para estimular a brasilidade nas pessoas, talvez até, na inocência das ações, fazer-se esquecer dos problemas que o país começava a viver no campo da economia, sobretudo vindos depois da crise do petróleo.

No entanto, apesar de uma certa maquiagem no país, algumas campanhas ficaram marcadas na memória de muita gente. Além da canção que já mencionei no título, as campanhas de limpeza com o atrapalhado personagem Sujismundo, além da canção Marcas do que se Foi e de tantos informes de utilidade pública do governo, alguns um tanto úteis, como o da importância do tratamento da água.

A campanha ao lado, em especial, chama os brasileiros para celebrar a data máxima do calendário cívico nacional: O 7 de Setembro, cujo já comentamos aqui em A BOINA. Se falta um pouco de espirito patriótico (sem exageros) ao brasileiros, sem dúvida que sim. Pois nele também reside a identificação como cidadãos que batalham e lutam dia a dia por um país melhor e livre dos trapos de corrupção que o cercam.

A propósito, a tal musiquinha do comercial cuja frase ilustra este trecho está aqui abaixo. Escute:


Cigarro Chanceller (1978) – Pedrinho, o fino

Pedrinho Aguinaga, modelo, bom-vivant, ator e propagandista-mor do Chanceller (Oswaldo Hernandez)

Ator, modelo, garoto-propaganda, eterno galanteador e bom-vivant. Quem pensa que a vida de Pedrinho Aguinaga se resumiria a apenas isto engana-se. O jovem carioca, passado já dos 60, avô e lutando para largar o vício do cigarro, não perdeu a malícia das declarações e não esqueceu de nenhum ponto das histórias que viveu nos anos 60, 70 e 80 na badalada vida que levava, diante de figuras do jet set brasileiro e mundial.

De família nobre e com boa relação com o meio TV, Pedrinho acabou, por acaso, passando de diplomata engomado ao titulo de homem mais bonito do Brasil nos anos 60, quando a busca de dinheiro para consertar o Gordini da tia, que havia batido em um dos tantos encontros da adolescência, o levou a um concurso de beleza no programa Flávio Cavalcanti. Dali por diante não parou mais. Virou figura padrão da high society, conhecendo pessoas de alto calibre, como o artista plástico e cineasta Andy Warhol, e acumulando histórias curiosas e mulheres, como Monique Evans (a única a casar com ele), Vera Fischer, Maria Callas, Liza Minelli, Demi Moore e outras tantas.

Aguinaga fumava desde os 11 anos de idade e o convite para o comercial do Chanceller foi pura casualidade. Para fazer as cenas fumando foram quase cem cigarros tragados, praticamente intoxicando o garoto-propaganda. Não era a primeira vez de Pedrinho no vídeo, fora filmes que participou nos anos 70, como A Banana Mecânica (1974) e Rio Babilônia (1982) e . Hoje, o bom-vivant e pé-de-valsa Pedrinho Aguinaga quer mesmo é passar o tempo com a neta e largar de vez o vicio (se já não largou).

Porém, a ligeireza nas respostas e as histórias épicas, isto o fino não esqueceu.


Edisa ED-300 (1978) – Informática com sotaque gaúcho

Em tempos de reserva de mercado, a informatica de dentro de casa mandava, como a da gaúcha Edisa (Oswaldo Hernandez)

Não é a primeira vez que o “moderno” microcomputador eletrônico é destaque nesta série. Na primeira edição, falamos do simples e prático Burroughs, que convidava a quem não conhecia o futuro provar um pouco do que a informática começava a ser capaz. No Brasil, as incursões no campo da informática começavam para valer no meio da década de 70, e algumas empresas começavam a despontar. Talvez a Edisa, que ilustra este anuncio de uma moderna opção para um bom Centro de Processamento de Dados (CPD) da época, seja uma das que mais teve destaque nesta empreitada pioneira.

A Edisa nasceu com a mão do regime militar em 1977. Diz-se mão do regime pois em 1974, a Secretaria Especial de Informática (SEI) criou a reserva de mercado para os produtos da insipiente indústria de informática nacional. Uma política que foi benéfica por um lado, por fomentar as iniciativas pioneiras, mas controversa por outro, por aludir a criação de uma espécie de cartel. Longe disto, a Edisa estabeleceu-se como uma pioneira no setor no estado gaúcho, sendo muito recordada pelos saudosos.

Foi através da Edisa que, em 1989, juntamente com a Tesis Informática, consolidou a entrada da HP no Brasil, que assumiria o controle total da empresa em 1992, com a queda da polêmica reserva de mercado. O case da Edisa com a HP é apenas um exemplo das empresas estrangeiras que entravam ou eram clonadas no país por meio de corporações brasileiras. Um caso semelhante é o da Unitron, que fabricou clones dos computadores da Apple, inclusive do fabuloso Macintosh. Mais isto já é uma outra história.


Forno Eletrônico (microondas) Sanyo (1979) – O pioneiro da agilidade

O primeiro forno de microondas vendido no Brasil: Ideia da Sanyo (Oswaldo Hernandez)

Assa uma carne em nove minutos. Espantou muita gente essa minuscula frase de efeito. Era com estas letras que a nipônica Sanyo trazia ao Brasil o primeiro forno de microondas, ainda chamado modalmente de forno eletrônico, em 1979. O eletrodoméstico não era nenhuma novidade fora do país, mas dentro de nossas fronteiras, era a última palavra de praticidade na cozinha, agilizando o preparo de alimentos, desde os mais simples aos mais complexos.

Vantagens não eram poucas do uso do equipamento, o anuncio não deixou faltar nenhum detalhe. O processo de cozimento por microondas se dá pela excitação e reversão do alinhamento das moléculas provocado por ondas eletromagnéticas, o que produz o calor para o aquecimento do alimento. O americano Percy Spencer é o pai desta ideia que descobriu quase que por acaso, durante a fabricação de equipamentos de ondas para um radar, quando uma barra de chocolate no seu bolso derreteu por conta da ação das ondas.

Em 1947, surgia o primeiro modelo, com 1,70 m de altura e pesando 340 Kg. Bem maior e mais desengonçado do que os aparelhos modernos, porém capaz de produzir ainda mais radiação do que os microondas atuais. Já a Sanyo, depois de décadas de sucesso em vários segmentos de eletros, como som e imagem, foi comprada, em 2009, pela também japonesa Panasonic.

1 comentário em “Publicidade anos 70: A mensagem de ontem, hoje (Parte 2)”

  1. Parabéns André por mais esta bela postagem abordando o tema propagandas.
    Como já diz o ditado verdadeiro ” A propaganda é a alma do negócio”. E realmente é e sempre será. Eu sou um dos que adora propaganda. Claro que existe cada uma mal feita, de mal gosto que só por ela não venderia nada. Analiso cada propaganda que assisto, sou fã mesmo. No momento a propaganda do Posto Ipiranga da show e está na frente de todas. E se achar que eu não estou correto, sem problemas, pergunta lá no posto Ipiranga.
    Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau

Deixe uma resposta