Dizem que, nos corre-corres da vida, sempre temos algo que nos é um escape do cotidiano agitado da nossa profissão. É necessário, quase via de regra para sua saúde física e mental e, dependendo da atividade, pode-se tornar mais um motivo para você ser reconhecido no lugar onde você está. Seja um trabalho voluntário na comunidade ou em outra atividade que, além de complementar a renda, lhe faz uma referencia na atividade que você considera um passatempo.
E nenhuma profissão escapa desta regra. O jornalismo também não. Quase todo o jornalista tem algum hobby ou atividade que o faz esquecer por momento daquela vida agitada como homem ou mulher da notícia. Jogar futebol ou volei, tocar, reger ou cantar numa banda; participar de atividades sociais ou em defesa dos animais, cozinhar, o que for. Serve para sumir temporariamente dessa correria louca e faz um bem inestimável para a mente.
Nestas andanças da profissão, conheci vários hobbies dos colegas jornalistas, que vão desde os esportes, o voluntariado ou as atividades manuais. Uma delas, desde meus tempos de RICTV Record, me chamou atenção, e é esta mesma que A BOINA traz como destaque nesta semana. Por trás da correria de pautas, residia na casa da Rua das Missões uma verdadeira artesã de mão cheia, com trabalhos que mostram a criatividade e graça nas estampas, linhas e objetos.
Este blog abre a pauta hoje para receber a querida amiga, jornalista do mais alto gabarito e uma artesã inspiradora. Trata-se de Roberta Koki, que traz consigo uma interessante história que mescla o mundo das pautas e notícias ao das artes manuais que encantam a todos. E ainda mais, numa história que pode lhe inspirar a procurar aquela atividade que lhe seja o escape da vida diária e uma forma de despertar o artista/voluntário/músico/esportista que há em você.
A entrevista foi por e-mail, mas é como que Roberta estivesse respondendo o interrogatório do lado deste jornalista. Sempre sorridente e carinhosa com os amigos a volta, a prima-dama do super Emerson Luis, voz do esporte da RICTV Record e um dos mais destacados na função no Vale, é o misto da alegria e da competência. Nos tempos de TV, era visível o perfeccionismo em cada movimento do Jornal do Meio-Dia de Alexandre José. Mas por trás do profissional afincado está a jovem mãe aquariana da pequena Taysa, de 4 aninhos, admiradora da literatura mesmo com pouca frequência e tempo para leitura, doceira confessa e apreciadora de um bom café. E tudo isso nas jovens 34 primaveras de vida.
Filha do seu Joaquim e da dona Janete, interiorana da simpática Registro, no litoral sul paulista, Roberta é jornalista mas que, entre a habilidade de preparar noticiários e escrever textos, está o domínio do artesanato. Do seu atelier saem peças únicas, quase infinitas, produzidas com o mesmo perfeccionismo das redações mas com aquela dose especial de amor que estas produções merecem.
Mas chega de falar por ela. Vamos deixar que ela nos fale sobre este mundo inspirador do artesanato que pratica, que vai muito além do escape que lhe é. Com vocês, Roberta Koki! Inspirem-se:
A BOINA: Roberta, pra começarmos bem, conta um pouco para nós sobre a sua carreira no jornalismo:
Roberta: Sou jornalista diplomada pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, no Paraná. Concluí o curso em 2004 e durante um ano apenas fiz “freelas”, na cidade onde cresci. Foi um período de muito aprendizado e o suficiente para pegar algumas manhas do mercado de trabalho. No início de 2006 soube de uma vaga em um jornal impresso em Jaraguá do Sul. “Meti as caras” e me mudei para Santa Catarina.
Durante um ano fui jornalista responsável pelo semanal O Regional, que circulava em Jaraguá e Guaramirim. Mas desde a faculdade sempre tive o sonho de trabalhar em TV, na parte de produção, edição…Em fevereiro de 2007 me mudei para Blumenau e comecei a bater de porta em porta nas emissoras locais, buscando uma vaga que preenchesse meu sonho – e minhas finanças, afinal estava desempregada. Consegui o emprego em abril daquele ano, na então Rede SC, àquela época afiliada do SBT, e, posteriormente, RICTV Record. Mas longe daquilo que eu queria, a vaga era para repórter!
Encarei o desafio…Trabalhei na função durante cerca de 10 meses. Depois disso, passei para a produção de jornalismo, produção da revista eletrônica “Ver Mais” e então à edição do Jornal do Meio Dia. E sempre que precisava também ia “pra rua”, como se diz no meio televisivo. Na RICTV Record aprendi a fazer de tudo: desde atender o telefone, os macetes para conseguir que uma fonte falasse, formatar uma pauta, fazer entradas ao vivo, cronometrar tempo, organizar um jornal inteiro. Foram 9 anos e 8 meses do maior aprendizado profissional que eu poderia ter na vida, com a chance de ter como escola nomes de peso do jornalismo local.
A BOINA: E quando o artesanato entrou na sua vida?
Roberta: Decidi ser jornalista muito nova, aos 12 anos de idade. Coincidentemente, atuei como jornalista por 12 anos consecutivos, desde a minha formação na área. Mas o engraçado é que sempre tive muito claro que eu não ia seguir essa carreira até o fim da vida. Tenho um amor e um respeito muito grandes pelo jornalismo, mas nunca me imaginei jornalista aos 40 – ainda falta um pouco pra chegar lá, mas neste momento, aos 34, era preciso fazer uma vírgula, uma pausa. E por isso, resolvi apostar naquilo que sou desde criança: artesã.
Tenho uma lembrança muito clara de fazer eu mesma a capa dos meus cadernos e livros da escola com 7 – 8 anos de idade. Cresci no ateliê de costura da minha avó paterna e sempre tive muitas referências com as artes manuais. Ainda criança, comecei a fazer coleção de caixas de todos os tamanhos, formatos e materiais que eu via pela frente. Customizava todas elas! Fazia roupas para as bonecas, com papel crepom, papel higiênico, papel alumínio.
Adolescente, arriscava a fazer meus próprios vestidos. Quando entrei para a faculdade dei uma pausa nessas “brincadeiras” todas. E retomei há cerca de uns 6 anos, quando resolvi eu mesma reproduzir aquelas caixas da minha coleção da infância. No início tudo muito precário, nem sempre com os materiais corretos, ao mesmo tempo fui apostando em várias técnicas e materiais: fiz bonecas com o emborrachado EVA, também me arrisquei com a costura em feltro, tive aulas de patchwork e até fiz uma visitinha ao mundo do “scrapbook”, mas me achei mesmo na cartonagem. É uma técnica que vem ganhando destaque atualmente e que usa basicamente um tipo específico de papelão, cola e tecido.
É a minha paixão!!
A BOINA: Os trabalhos manuais eram um escapismo do agito da vida na imprensa?
Roberta: Sem sombra de dúvidas. Mas não só uma válvula de escape, mas infelizmente, uma forma de complementar a renda. É triste ver como profissionais tão bons são tão mal remunerados. Me arrisco a dizer que os ganhos financeiros são inversamente proporcionais à rotina agitada, intensa e desgastante (no emocional, principalmente) que os profissionais da comunicação têm. O artesanato me dava esse “respiro” em todos os sentidos.
A BOINA: Hoje as pessoas procuram tanta coisa pro tempo livre. O artesanato é uma saída para estas pessoas para se ocuparem?
Roberta: É sim. Artesanato pode ser comparado à terapia…é uma forma de autoconhecimento e até de superação de limites.
A BOINA: E que tipos de trabalho você desenvolve? Somente trabalhos com cartonagem?
Roberta: Minha especialidade é a cartonagem. Mas ainda hoje me arrisco a vários trabalhos manuais. É importante sempre se inteirar das inúmeras possibilidades.
A BOINA: E o que dá para criar com estes materiais todos?
Roberta: Nossa, o artesanato é um mundo de oportunidades!! Na cartonagem, especificamente, é possível criar infinitas peças, desde cadernos, carteiras, bolsas, caixas, até móveis são possíveis de fazer com a cartonagem!! Isso mesmo: mesas, armários, estantes feitos de papelão, cola e tecido! É encantador!!!
A BOINA: Recorda de algum trabalho seu marcante que tenha ficado na memória por algum motivo especial?
Roberta: Tem sim. E é uma união do jornalismo com o artesanato. Na RICTV Record, durante pouco mais de um ano – de setembro de 2014 a dezembro de 2015 – tive um quadro no programa “Ver Mais”, o “Faça Você Mesmo”, em que eu entrevistava artesãs da região e ensinávamos a fazer o passo a passo de alguma peça.
Foi maravilhoso porque conheci o trabalho de muuuuita gente competente e tive noção das tantas possibilidades que essa área oferece. Amadureci meu modo de ver os trabalhos manuais, o valor que aquilo tem não só para quem faz (é o ganha-pão de muitos – hoje, inclusive o meu, hehe), mas também para quem compra, para quem valoriza uma peça exclusiva, feita manualmente.
Mas o mais gratificante nisso tudo é até hoje ser lembrada por aquele quadro. Esses dias mesmo eu estava na fila da padaria de um supermercado e a moça que me atendeu disse ao entregar meu pedido: “Você é a Betinha da RIC, né?! Sinto falta do “Faça Você Mesmo”. Era tão legal, eu aprendia tanta coisa com você…Uma pena que acabou”.
É piegas eu dizer, mas isso não tem preço.
(É de natal… mas artesanato é atemporal. Neste quadro em destaque, Roberta está acompanhada de Patricia Muller, professora de patchwork do Ateliê Casa de Pano)
A BOINA: Com este mundo de artes em suas mãos, você pretende voltar a imprensa ou, agora, é artesanato para a vida?
Roberta: Como já disse acima, tenho um respeito muito grande pelo jornalismo. Não posso dizer que não, que nunca mais vou atuar na área. Eu gosto daquela loucura toda! Mas meu momento agora é do artesanato. Não sei como vai ser o dia de amanhã, como serão os anos a seguir, tempo ao tempo para ver como tudo se organiza. Hoje o foco é no meu negócio, na criação das minhas peças, na confecção das encomendas, na preparação das aulas para minhas alunas. Quem sabe a união das duas coisas ainda seja uma alternativa num futuro breve, hehe…
A BOINA: E quem quiser conhecer teu trabalho… fazer encomenda… pegar dica… onde te encontra?
Roberta: Opa!!! Acho essa parte bem legal, hehe…Tenho minha página no face, que é Betinha Koki Artesanatos e o insta @betinhakoki. Lá eu exponho minhas peças, fecho negócios, tiro dúvidas…
A BOINA: Beta, eu creio que a turma de A BOINA que nos lê agora está curtindo e muito este bate-papo! Para quem estiver lendo, deixa uma mensagem bem especial sobre esse mundo do artesanato, pode ser?
Roberta: Puxa, “Portuga” (inevitável te chamar assim)…antes de mais nada, obrigada pelo espaço e pelo carinho de sempre. Que a chama dessa sua força de vontade de fazer acontecer nunca se apague!
Quanto à mensagem sobre o mundo do artesanato, bom…é um caminho cheio de barreiras, como em qualquer outra profissão. Mas é uma profissão, que precisa ser valorizada e reconhecida. Esses dias eu li: “Quem faz artesanato não vende apenas um produto…vente seu tempo, vende sua atenção, vende sua imaginação, vende um pedacinho do seu coração”.