Á criança interior

Num trecho da velha Bíblia, J. Cristo dizia que “é preciso ter coração como o de uma criança”. Nas linhas gerais, é ainda ter a capacidade de sorrir, se encantar, apaixonar-se pelos momentos e chorar quando puder e precisar chorar.

Hoje, a verborragia artificial a nosso redor frasefica isto mas não prega isto. Aplaudimos atos de pura imaturidade e condenamos com a mesma palavra quem ainda tem o poder de encantar-se pela vida em trovas e brincadeiras sutis. Não se ri mais “com os outros” mas “dos outros” quando estes seguem esta frase mais a risca: o coração como o de uma criança.

As crianças: elas sempre tem o que nos ensinar mesmo que pensamos tolamente que nós que temos de, meramente, educa-las. Preparamo-las para a vida mas nós mesmos parecemos molda-las a perder, anos depois, o encantamento e doçura poética pela vida que tinham antes. O fazemos cedo: um celular na mão de outro pequeno ou pequena é o início, cada vez mais prematuro, neste mundo hostil e, ai sim, imaturo das redes virtuais.

Eu olho em volta, os dedos em riste que condenam as almas que ainda sorriem e riem sem motivo, apenas por viver e ver a vida com alguma graça neste cinza constante. Pobres, coitados e esgarçados… Aonde deixamos de ouvir uma canção de verdade? Aonde trocamos sentimentos reais e risonhos por futilidades e ilusões cruéis? Aonde deixamos, na alma, de sermos crianças?

É, o brilho de uma vida com o encantamento pueril ficou, tão somente, na revoltada saudade de alguns enquanto os gritos e depreciações silenciam. Ser simples, tranquilo e encantado como uma criança é desafiante e, por vezes, dolorido e depreciante. Mas quem se coloca em pé diante desse furacão pode crer: tem uma chance de ainda ver esse mundo com um arco-íris em dia de chuva constante.

Por favor, deixe-se ser mais leve, encantado, poético e otimista quanto uma criança em dia de sol. Dedos apontados à você não dizem nada, não te colocam abaixo. Ao contrário: são capazes de provar a distância da sua percepção de mundo de quem o teima ver vazio e sem vida.

É preciso ter o coração tal como o de uma criança… O tenha, e avise isso a sua criança interior.

Ela merece viver

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