Som n’A BOINA #31: Family Bands, nomes do passado da musica em família

É bem certo dizer que grandes reuniões de amigos foram embriões para grandes bandas que, até hoje, permeiam nossas mentes musicais. Foram estas reuniões que deram forma ao som que hoje nos faz navegar por acordes inesquecíveis, como dos Beatles, Rolling Stones, AC/DC e tantas outras nascidas desta forma. Mas, e se este estalo musical partir não só de amigos bem ligados… Mas da própria família que você vive?

Não é raro, dos meados dos anos 60 até perto do fim dos 70, as – por mim batizadas – Family Bands pipocaram pelo mundo, surpreendendo a plateias pelos cinco continentes com os talentos oriundos de um seio familiar. Não por menos, deixaram um sem-número de canções inesquecíveis e, até hoje, mesmo que soe brega ou cafona, canções como estas não deixam qualquer um indiferente ao ouvir, e ao conhecer a história por trás é impossível não ser um pouco curioso.

No boom das family bands no fim dos anos 70, a Família Do-Ré-Mi (The Patridge Family) foi uma divertida adaptação da história destas bandas para a TV, entre 1970 e 1974 (Reprodução)

Este fenômeno foi ponto de partida para uma das mais marcantes séries de TV daqueles idos. A Família Do-Ré-Mi (The Patridge Family), produzida pela americana ABC entre 1970 e 1974. A série contava, de maneira animada, as aventuras nas divertidas excursões da família Patridge, interpretada por uma gama de talentosos atores, entre eles destacando-se o super David Cassidy, bom cantor e um sonho para as meninas dos anos 70. Apesar da curta duração, a série foi o retrato destes interessantes grupos que nasceram neste período, tendo até uma história interessante vinda daqui mesmo do Brasil.

Sendo assim, vamos viajar por alguns destes nomes, uns meio na penumbra do tempo (o que não desconsidera o sucesso que conseguiram) e outros mais do que lembrados. Já aviso que alguns nomes talvez eu omita de propósito, como Bee Gees, Hanson, Oasis ou Jonas Brothers, mas o objetivo é mergulhar mais ao passado, no mundo fabuloso e inocente dos anos 60/70.

The Cowsills

Barbara Cowsill (ao fundo, de vestido) e os filhos. O The Cowsills inspirou série de TV e marcou época com tema de um dos mais emblemáticos musicais dos anos 70 (Reprodução)

Talvez a primeira family band de grande repercussão na indústria da música. Iniciaram a trajetória de sucesso em 1965, já espantando pela formação peculiar que trazia consigo uma trupe de irmãos talentosos, os jovens Bill, Bob e Barry Cowsill, que mais tarde seriam acompanhados pelos demais irmãos: John , Susan , Paul e a matriarca da família, Barbara Cowsill. Para completar a paróquia, o irmão gêmeo de Bob, Richard Cowsill, era gerente da banda nos assuntos extra-palco.

Apesar de algumas instabilidades na vida corrida do conjunto, a familia Cowsill conseguiu grandes êxitos na primeira fase da carreira (1965-1972), tendo como grandes cartazes The Rain, The Park and The Other Things e a apoteótica Hair, tema de um dos mais emblemáticos espetáculos musicais daquele período e um dos tantos hinos da juventude cabeluda e rebelde dos anos 70. Por motivos profissionais e alguns problemas pessoais, a família separou-se e voltou algumas vezes nestes anos, mas regularmente, tem feito interessantes reaparições.

Vale dizer bem, foi o The Cowsills que inspirou a ABC na criação de A Família Do-Ré-Mi, em 1970.


The Osmonds

Os jovens rapazes Osmonds e, ao centro, a também talentosa Marie Osmond. Mesmo sendo mormons, as carreiras não tiveram empecílios e tempo foi suficiente para construir a base das modernas boy bands (Reprodução)

Apesar de mais tempo de estrada que o Cowsills, o The Osmonds estourou de verdade muito depois do início oficial, em 1958, como um reles quarteto de barbearia ou barbershop quartet, que são aqueles simples grupos de cantores a capela de sincronismo vocal impressionante. O que mais chama a atenção na banda ainda é o fato da família ser Mórmon, o que não influiu em nada na criação musical e carreira da banda, mas norteou os valores do grupo.

O alinhamento vocal do grupo, aliado ao carisma e a dança fizeram da família a pioneira na base do que seria, tempos mais tarde, o estilo das boy bands dos anos 90. No auge da carreira, a turma era composta pelos irmãos Alan, Wayne Merril, Jay e os caçulas Jimmy e Donny Osmond. E não parava por ai, a única irmã da turma, Marie Osmond, também cantava mas não com os irmãos, desempenhando uma boa carreira solo. Detalhe, dois dos irmãos da trupe eram surdos – George e Tom Osmond – mas ainda assim apareceram em especiais de TV da família nos anos 70.

Apesar de sucessos, como a super One Bad Apple, os membros começavam a se arriscar em carreiras solo, onde Donny Osmond desempenhou-se bem em discos e canções como Puppy Love e Where Did Are The Good Times Go. A veia mórmon também foi motivo até para um ousado álbum conceitual da banda no estilo Rock Progressivo intitulado The Plan, em 1973, com relativo sucesso.

Vale também lembrar que Donny Osmond era figura garantida nos desenhos de Johnny Bravo, onde apareceu duas vezes em caráter especial, a primeira sendo babá do topetudo louro do Cartoon Network. Acredita?

Com relação ao Osmonds, eles merecem um texto a parte aqui no SnaB. Aguardem!


The Jackson Five

Michael Jackson e os talentosos irmãos do Jackson Five. Apesar das repreendas severas do pai, uma história bem escrita na música internacional (Reprodução)

Não é preciso muito para os definir. Um dos maiores marcos do Soul e da música pop internacional nascia num conturbado, porém magnífico grupo famíliar, um dos mais incríveis de todos os tempos. Nascido em 1964, sob o rigido (e exagerado) controle de Joseph Jackson, a trupe de irmãos Tito, Jackie, Jermane (posteriormente Randy) e Marlon tinha como astro maior o pequeno-grande Michael Jackson, em inicio de carreira. E que início, marcando ponto até no consagrador Soul Train, com a bênção do mestre de cerimônia da atraçãoDon Cornelius.

Muito além da parte musical, como os jovens vizinhos da família Milford Hite (bateria) e Reynaud Jones (teclados) acompanhando a trupe, o Jackson 5 misturava a batida forte e marcante do Soul com os passos bem marcados da dança, chegando até a rivalizar com o The Osmonds nos anos 70. A rigidez de Joseph Jackson foi espantosa, algo que estigmatizou em grande parte a vida dos garotos, mesmo que o brinde foi uma banda talentosa que marca firmemente a própria história no mundo da música.

Michael despontou na carreira solo ainda nos meados dos anos 70, confirmando os dotes em fins da década. A saída era inevitável, mas a banda seguiu até 1984, com o nome de The Jacksons, por conta de desacordos com a Motown – antiga gravadora do grupo – que acabou ficando com o nome original.

Os irmãos mantinham uma boa relação em chegaram a se reunir algumas vezes após o sucesso, como em 1983 e 2012 (tempo após a morte de Michael), onde chegaram a sair em turnê. Um trampolim para o futuro Rei do Pop, mas uma senhora história escrita com persistência e muitas cores.


Golden Boys e Trio Esperança

Eis os Golden Boys e o Trio Esperança. Estão misturados? Não tem problema, são todos da mesma família (Elias Nogueira)

Esta tem selo verde-e-amarelo e nasceu num dos momentos mais férteis da música brasileira. A família Correia José Maria tinha a música no sangue, e foi dela que nasceram dois dos principais grupos, tanto da Jovem Guarda quanto da MPB, escrevendo uma história muitas vezes omitida na música nacional. A primeira nasceu em 1958, sendo, na origem, um quarteto de doo-wop, muito comum naqueles tempos. Nela estavam os três irmãos mais velhos: Roberto (falecido em 2016), Ronaldo e Renato, mas o primo, Valdir Anunciação, falecido em 2004.

Os Golden Boys navegaram por várias pegadas do Rock e Jovem Guarda, com sucessos como Alguem na Multidão, Erva Venenosa e Pensando Nela, mas enveredaram também para um ritmo mas MPB, com notas de Rock e Soul, como em A Poluição, O Cabeção e Eu Bebo Sim, entre outros. Ainda seguem em atividade plena, sendo um dos pilares da origem do Rock brasileiro.

O “Temptations” brasileiro em ação, Roberto, Ronaldo e Renato Correa, junto do primo Valdir Anunciação (Reprodução)

 

No outro lado da cerca com porteira da família estavam os irmãos mais novos – Regina, Mário e Evinha – que iniciaram a carreira em 1961 e arrebataram corações com trilhas mais soft e românticas, como Filme Triste e Olhando para o Céu, e com canções um tanto puxadas para o segmento infantil, mas igualmente bem executadas, como Gasparzinho, Udi Udi Pica Pau e A Tartaruga, entre outras. Evinha teve uma respeitável carreira solo na MPB e seria substituída nos anos 70 pela irmã mais nova, Marizinha, que segurou bem a peteca durante os anos.

A primeira formação do trio: Regina, Mário e Evinha. Eva seguiria carreira solo nos anos 1970, sendo muito bem substituída pela caçula, Marizinha (Reprodução)

Nos últimos anos, ainda em continuação da carreira, todos os irmãos encontram-se uma vez ou outra para recordar sucessos em shows sempre recheados de boas canções e nostalgia.

Uma família como a Correia José Maria no Brasil não vai existir igual em mil anos, pode escrever!

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