Quando a notícia veio, comentei ligeiramente com a irmãzinha Duda Rocha, lá da matriz da União: é a consequência do tempo que vai passando. Inevitavelmente, esses caras que aprendemos a idolatrar estão indo. A idade (e algum comportamento fora da curva, o que é normal) vai cobrando”.
Mas… sinceramente, tem alguns tipos que a gente gostaria que não seguissem essa lógica com tanta certeza. Hoje, outro desses baques acabou nos tomando de susto no mundo da musica, e atingiu um dos meus bateras favoritos: o garoto Charlie Watts, 80 anos, não está mais aqui para que as pedras rolem.
Charles Robert Watts, londrino da capital e fã de jazz, espelhava-se nos músicos do estilo para criar seu som. Chegou a ser publicitário antes de envergar as baquetas de vez. Chegou aos Rolling Stones em 1963 com aquela fé curta e discreta, sempre marca dele “já disse que, quando começaram os ensaios, imaginava que aquilo não duraria mais do que um mês”. Foram quase seis décadas.
Ao contrário de Mick, Keith e Ron, Charlie era o discretão, o oculto, qualquer coisa fora do quadrado da bateria era demais para ele. A bateria era o seu mundo e lá que ele fez seu nome e fama. Toca-la era o que interessava e o fazia com primor: misturava o estilo jazz de portar-se com um ritmo marcado, firme, a marca dos Stones em cadencia musical que, em minha opinião, é notável ao ouvirmos “Star me Up” concentrando-se no que ele produz: uma sonoridade forte, dura, discreta e presente.
Mas as doenças chegaram ao discreto baterista, obrigando ao amigo Steve Jordan fazer a parte nos shows de Jagger e seus comandados. Discreto foi a vida toda, mas não impediu de nos chocar e sentir a sua partida repentina, com tanto ainda por viver junto da banda que “não duraria mais que um mês”.
E do alto de um “arranhador” e admirador da bateria, o sentimento é doído quando se vai um daqueles que a sabiam tratar bem. Discretamente, vai Charlie, mas sem deixar um vazio na marcação de ritmo dos Stones…
Thanks, Charlie… and keep rolling! 
