E Sabine corre…

Correr…

O ser humano sempre foi fascinado pela arte da velocidade. E ainda mais quando, pela própria flora muscular, se torna capaz de atingir a possibilidade de ver o mundo correndo ante os olhos.

Há quem quer superar os segundos, há quem quer superar as distâncias. Quem quer correr, quer viver, quer traçar o mundo entre passos propositadamente apressados, virando curvas, ultrapassando metas e placas, encontrando a cada novo marco atingido, encontrar algo: seria a própria paz? O sorriso perdido? Outro marco para ser superado?

E Sabine? Seria ela uma resposta?

Observar, inspirado, os caminhos feitos por Sabine nessas curvas da vida talvez nos responda algo sobre esse fascínio que leva o ser humano a fugir constantemente. Rasgando as pautas de um dia, desmistifica-se a formalidade da jornalista e passa-se a observar, em baile, o seu movimento numa pista vazia. É apenas ela com o mundo inteiro a volta, imerso nas desgraças que conhecemos.

Sabine parece não temer. Desce andares, bate as pontas dos pés no chão… corre. As passadas largas sob o olhar do mar, companheiro antigo, parecem querer acompanhar seus passos e pensamentos. A mente vazia dos deadlines, dividida entre uma paisagem beirando a poesia e a frieza dos cronômetros rodados.

(Arquivo pessoal)

O movimento humano, orquestrado por um coração enlouquecidamente acionado, acompanha a marcha. É um passo ponteado, sem perder o ritmo e a noção da fuga na liberdade do tempo. Os músculos bailam entre contrações e espasmos, abres e fechas, da ponta dos pés ao último fio de cabelo esvoaçante, pedindo por movimento.

Com ela correm os humanos, e por que eles correm? Correm para vencer, correm para superar, para ser algo mais, para encontrar uma tal paz na marcação da respiração. Ela ofega imersa na adrenalina, na sarabanda de sensações que beiram os limites que o cronômetro, esse conde quase maquiavélico, impõe a um corpo carnal.

Talvez, envolto no baile inspirador do movimento humano da corrida de Sabine, entendemos perfeitamente o porquê dos mil sorrisos que a jornalista dispara no fim do trajeto: o corpo descarregou algo que não vemos mas sentimos o peso no ar, os limites, os males do cruel sedentarismo que espreita, limpou-se uma mente talvez poluída, consumida pelos papeis, caras e bocas de uma profissão exigente, entre a fala e a pose.

(Arquivo pessoal)

E Sabine continua a fascinar os que tentam entender o que é este fascínio humano pela corrida, pelo movimento acelerado da vida que ele mesmo causa. Ela vai se levantar, flexionar as pernas em movimentos constantes para recomeçar os movimentos, reacender a caldeira da adrenalina e partir rumo a outros limites: do corpo, do estado, do país, da mente, da vida.

Assim se faz o mistério da corrida, da fuga em busca de vida, do ser humano fascinado sem ponto de partida

…e Sabine corre. 🌻🌻

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