Timbó, 152

Quando me perguntam para onde eu vou num fim de semana quando digo que tenho algum compromisso, geralmente a minha resposta é um sonoro “Timbó”. O pessoal não se acredita, pensa mil e uma coisas e solta aquela: “tá, mas não tem outro lugar para ir não?”

Dizem alguns amigos de lá que “quem conhece Timbó a primeira vez corre risco de gostar dela para sempre”, e mentindo eles não estão. Foi preciso um ano e meio de convivência para sentir saudade, falta do cotidiano tranquilo e dos “bairrismos” tão próprios dela, coisas criadas ao longo de décadas por quem lá viveu e vive suas veredas, cores e flores.

Saí desta rotina, oficialmente, em janeiro de 2019 totalmente contrariado. Era o tal do ciclo que a gente não queria terminar. Sai de lá, mas Timbó não saiu de mim, o trabalho na União FM aproximou-se, novamente, de muita gente que considera o tradicional 96.5 sua companhia diária. Um gostoso privilégio, diria eu.

Mas, ao mesmo tempo que me sinto um filho adotivo deslocado da Pérola do Vale, entre saudades e amores, não posso deixar de me preocupar com os movimentos que a pequena cidade tem levado: a recente “paranoia coletiva” levada a cabo no dia 7 de setembro me arrepiou até a espinha observando um todo confundir “patriotismo” com a defesa de ideais falidos, nefastos e contrários a uma cidade que já chamei de “mais mente aberta do Vale”.

É duro falar isso, mas esconder minha preocupação é impossível. Outras notícias têm ou me arrepiado os cabelos ou me feito pensar duplamente: A recente nota da construção de portões e cercas para o Parque Henry Paul, por exemplo, é uma delas. Há pouco tempo, passar por lá não inspirava tanto perigo e dava para cruzar a passarela até o Complexo Esportivo com alguma tranquilidade. Tranquilidade roubada pelos criminosos que atacam nas sombras.

Timbó passou dos 150 muito bem, continua olhando para o futuro planejando os passos que dá, o que a fez de exemplo muitas vezes. Mas olhando de fora fica possível não perceber que a Pérola passa pelas suas crises de idade: insegurança, consciência, caminhos equivocados de pensamento comunitário e social, até mesmo a escolha de um portal de entrada é motivo para expor opiniões ora extremamente conservadoras ora radicalmente abertas, e no meio disto tudo a hipotética “exclusão” do Araponguinhas, histórica área carente da cidade.

Em tempos onde o pensamento não se esconde, Timbó expõe suas crises e dores de cabeça entre os novos tempos e uma âncora presa a um conservadorismo que não existe mais senão na cabeça dos que se agarram a este raciocínio retrógrado. Refletir não é um mal, é simplesmente colocar o que incomoda em panos limpos e arrumar a casa em tempo, antes que os aniversários vindouros sejam outras exposições de confusões mentais e sociais num futuro de 50, 100, quantos mil habitantes vier.

Eu, quieto nos meus versos e poesias, amo e me preocupo com esse quinhão de terra, lar de muitos amigos e casa de muitas histórias. Mas Timbó é Brasil, e o Brasil, como sabemos, também passa pelo seu duro exame de consciência. Ainda dá tempo de ser a “mente aberta” que tanto prego, a cidade jovem que pensa aberto, desamarrada da intolerância, virada para o futuro.

Ainda dá tempo, Timbó.

Gratidão. 🌻🌻

1 comentário em “Timbó, 152”

  1. Texto muito verdadeiro digo eu que em 1986 ainda muito moço conheçi está pérola e logo cheguei a maior idade fui adotado por ela é não me vejo já mais me despedir dela., Cidade abençoada.

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