GRAINING & MARBLES #Especial | “Carreras son carreras…”

“Carreras, son carreras, y terminan cuando se baja la bandera”

A frase batida de Juan Manuel Fangio se aplica em qualquer esporte, em qualquer momento de decisão. Ganha que sabe explorar fraquezas do rival para, por vezes, virar o que parece impossível. E quando a virada vem, causa inconformidades de um lado e exaltações do outro. Um jogo de amor e ódio que faz parte do esporte.

A cortina final da F1 em 2021 tinha que ser assim: digna de uma decisão tensa, nervosa, com lances controversos e disputas selvagens. Mas a decisão não premia quem já pensa estar na vantagem que sempre lhe foi habitual. Neste caso, ela concede os louros a quem ousou sair da curva, arriscar antevendo a imprevisibilidade do esporte em si e, numa última cartada, conseguindo o tento.

Max Verstappen, holandês, filho de pilotos (pai ex-F1 e mãe ex-kartista), agressivo, as vezes chulo mas compenetrado, amadureceu demais nos últimos tempos mesmo deixando-se errar e desesperar em alguns momentos. Viu a vantagem que tinha escorrer das mãos e partiu para o mano-a-mano em Jedá. Respirou, deu a tacada e virou a mesa na hora que precisava. Um ataque apenas, como tantos que já deu em pista ao longo da ainda curta carreira e contra o rival do ano, alguém que leva consigo todos os recordes da atualidade.

Lewis Hamilton, inglês, vindo de um país de tradição e dono de uma persistência gigante. Também amadureceu demais ao não deixar-se errar em situações adversas. Quando tudo parecia perdido, bateu o pé e foi a luta com atuações dignas de grandes vultos da pista. No entanto, foi vitima do sono dos louros que aflige qualquer time com a vantagem na mão. E quando o esporte deu a mostra do imprevisível, viu todos os avisos dados irem para o ralo. Nesta hora, o grito e choro de Toto Wolff de nada adiantaram. teve ele seu dia de perdedor.

A noite das arábias, que parecia morna, acabou com os picos de adrenalina no teto. A Mercedes, do alto de sua competência, tinha o melhor carro. A Red Bull, do alto de sua garra, tinha a melhor equipe. E fala-se nisso de uma ponta a outra: Sergio Pérez foi o escudeiro que Valtteri Bottas não o foi, capitaneou a luta conjunta e fez sua parte na briga (merecia o pódio). No contexto, os planos executados de troca de pneus pareciam só arriscar um nada, mas foram eles premiados pela imprevisibilidade do esporte. E Max, claro, usou da única bala que tinha para fazer justiça na pista, de forma clara e puramente “racer”, sagrou-se campeão, sagraram-se campeões.

Enfim, respirar adrenalina novamente em uma decisão de título é algo que fazia uma falta danada. Quem largou antes das últimas voltas deve ter se arrependido amargamente. Quem aguentou mesmo esboçando o brochar, foi sumariamente premiado com um golpe certeiro, aquele gol aos 49 do segundo tempo, a última cesta de três no último minuto do quarto, a última corrida do baseball no tempo decisivo, a última corrida de touchdown no Superbowl, o legítimo momento de decisão que se espera de uma F1 como foi esta em 2021.

Minhas escusas, sr. Wolff, pois o choro é livre e compreensível. Perca como cavalheiro e fique você com a frase que melhor representa todo esse universo dominical vivido, vinda do calmo (e quase sabotador) Michael Masi: “É uma corrida! Isto acontece!”, e a onça valente teve seu dia de tapete.

“Carreras son carreras”, está acabado (tomara!), Max é o campeão. 🌻🌻

(GettyImages)

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