Dizia um antigo comercial argentino do inoxidável Ford Falcon: “Essas coisas tem algo em comum. Conseguiram transcender o tempo, Mantem-se, atualizam-se e acrescentam em sua existência. São clássicos, clássicos argentinos”. Nas imagens, estão elementos como o GP Internacional Carlos Pellegrini de turfe, o mate, o futebol, o tango.
Era 1978, e entre estes clássicos a torcida e as ruas também falavam o nome de Lole. Argentino também gosta de velocidade, tem suas lendas e figuras ímpares. Se ficarmos só em Juan Manuel Fangio, José Froilán González e Oreste Berta, já temos uma parte, mas não o todo.
E a boca do torcedor argentino, na beira das pistas, gritava pelo moço quieto de Santa Fé. Lole era cerebral, técnico, ao mesmo tempo que era introspectivo, tinha poucos amigos no circo e os poucos eram o suficiente para entender o universo em volta.
Quem viu Lole na pista pode compreender as proporções de arrebate que seu talento provocou. Quando surgiu sem nenhuma discrição cravando a pole em casa em 1972, aquele argentino de cabelo grande da Brabham era muito mais do que “mais um”.
E ele se negava a isso, era um dos tantos que encaravam a morte dos anos 1970 compenetrado, e não se torcia a perder a própria ideia em nome de um pensamento de equipe ou de alguém. Determinado, foi assim que Lole venceu a primeira mesmo em meio a uma tragédia. Foi assim que chamou a atenção de Maranello e fez sua história por lá… e foi assim que abandonou a F1 batendo o pé na porta da casa da Williams.
Uma carreira de 147 GPs e 12 vitórias parece pouco, ainda mais por saber que, no ato, sempre faltava algo para se ombrear com Fangio e dizer que tinha um título para si. Afinal, na melhor de suas chances, foi para um garoto que limpava as rodas do Brabham que pilotava em Brasília, no distante 1974, que perderia sua maior oportunidade de alcançar o olimpo, sete anos depois daquele serviço corriqueiro na capital federal.
Do seu gabinete de senador, buscando forças para combater o mal que lhe atacava o estômago, talvez lembrasse de tudo que viveu em alta velocidade nas pistas do mundo. Asfalto, barro, chuva, sol, branco, vermelho, verde, as memórias vão longe entre as curvas de Oscar Galvez.
E como um grande que não teve um titulo para si, na hora da partida, a reverencia é como o último floreio de um tango apoteótico. O piloto Reutemann, o ídolo Lole é um clássico, clássico argentino
Gracias por todo, Lole. 🌻🌻