GRAINING & MARBLES #Especial | Michael, 1991

E se não fosse o spray de pimenta de Gachot?

E se não fosse uma mentirinha bem contada?

E se não fosse as ambições da Sauber-Mercedes?

E se não fosse o ótimo (e belo) carro da estreante Jordan?

Dizem que a vida tem esses lances milimétricos que definem, por vezes, momentos históricos. De tragédias a momentos de alegria, o “e se” está ali como um fantasminha camarada apenas para nos fazer imaginar, hipoteticamente, os outros caminhos do mundo. Mas ele, como bem sabemos e para nossa alegria, não joga.

Então, entre um spray de pimenta numa briga no centro de Londres e um alemão queixudo e rápido na pista em 1991 uma soma de fatores e movimentos foram os determinantes para o mundo da F1 conhecer a velocidade de Michael Schumacher em um dia de Spa há três décadas atrás.

Recontar todo o caminho que o alemão de Colônia fez pra chegar ao cockpit do Jordan 191, obra-prima do design e engenharia de Gary Anderson, chega a ser repetitivo. Dos fãs da categoria, é mais que sabido que Willi Weber, o agente do garoto, aprontou os caminhos rumo a sala de Eddie Jordan quando este se viu sem o então presidiário Bertrand Gachot para correr na temporada, e teve de dar uma de “João-sem-braço” ao encarar os olhos envidraçados do irlandês e dizer na caruda: “Spa? Conheço como a palma da mão!”

O resumo de tudo, a gente presenciou na pista naquele fim de semana nublado na Bélgica: Michael metendo tempo no veterano Andrea de Cesaris (que também estava ótimo naquele fim de semana), partindo de um chocante sétimo lugar no grid e tendo a infelicidade de parar logo depois da Eau Rouge com a embreagem estourada, isto depois de largar e chegar a estar em quinto. Só Senna, Prost, Mansell e Berger estavam a frente.

Este é reflexo costumeiro de mais uma das grandes histórias do mundo que nos permitem ter contato com fenômenos que passam, vez em quando, sob as bordas arredondadas da terra. Schumacher era um destes assombros, e apesar da fama (exagerada, digamos) de “Dick Vigarista” que assimilou em dados momentos, é inegável não se deslumbrar com o que aprontou na pista depois daquilo: sete títulos mundiais, 91 vitórias e 68 poles divididas entre as “cores unidas” da Benetton e o “rosso Maranello” da Ferrari.

A volta pela Mercedes depois da primeira aposentadoria pode ter sido discreta, mas foi uma forma de “gratidão” do queixudo por ter sido, na casa da estrela de três pontas, a porta lhe foi aberta para estar fazendo a miséria que fez em anos de pista. Abaixo, o excelente Projeto Motor conta bem detalhadamente os caminhos dessa história de 30 anos para quem quer mais pormenores de tudo.

No mais, keep fighting, Michael! A gente aplaude aqui de fora sempre, graças a ausência dos “e se” da vida. Ainda bem que ele não joga 🌻🌻

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